Opinião
Crónica de uma morte de um Orçamento de Estado anunciada
2021-11-11 19:49:18
Nos últimos dias muito se debateu sobre a crise política motivada pelo chumbo do Orçamento de Estado, quase como que fosse uma questão de honra do PS – isto é, – um braço de ferro com o Bloco de Esquerda e a CDU, como se de uma morte de Orçamento de Estado anunciada se tratasse. O Orçamento de Estado para 2022 foi chumbado logo na votação na generalidade, só existindo abstenção por parte do PAN e deputadas independentes, e votos a favor pela bancada do PS. É de recordar que o Orçamento de Estado para 2021 já só tinha sido viabilizado com a abstenção dos comunistas com o evidente voto contra dos bloquistas.
No seguimento da rejeição pelo parlamento do Orçamento para 2022, o Presidente da República, após ouvir os partidos representados na Assembleia da República e o Conselho de Estado, anunciou a 4 de Novembro, e após parecer favorável do Conselho de Estado, dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas para o dia 30 de Janeiro de 2022.
Todos sabemos que as divergências eram e são de fundo, de substância, em áreas sociais relevantes, como a Segurança Social ou legislação do trabalho, e inultrapassáveis. Tanto o Bloco como o PCP perceberam que estavam enganados, a dada altura imaginaram que estavam na Geringonça a construírem um projeto próprio com o PS quando na realidade estavam a ser uma mera muleta do PS – algo que lhes vai custar muitos eleitores. A grande probabilidade, após eleições, é a de haver uma redução na maioria de esquerda no parlamento.
Esta crónica desenrola-se:
O PCP e o Bloco sairão penalizados por terem sustentado um governo que fizeram cair;
O PAN regredirá e ficará sem expressão eleitoral;
O PS independentemente da votação que venha a obter não mais contará com comunistas ou bloquistas para formar governo;
O PSD tem tido alguma dificuldade em ameaçar a atual maioria de esquerda e em fazer oposição, e será que com a crise interna conseguirá clarificar a sua posição? Ponderar governar em bloco central com o PS poderia ser muito penalizante para o partido;
A IL poderá aproveitar uma janela de oportunidade de crescimento apesar do seu posicionamento dúbio em questões políticas de fundo;
O CDS encontra-se numa profunda crise interna e sujeita-se a uma grande perda de votos para o IL e para o Chega;
O Chega, após recentes eleições para reeleição com quase 95% dos votos para o seu Presidente André Ventura e eleição de Deputados ao Congresso Nacional a realizar de 26 a 28 de Novembro, será um partido organizado com enfoque nos bons resultados nas eleições de 30 de Janeiro de 2022. Reforçará seguramente a sua dimensão parlamentar.
Sendo um partido liberal na economia e conservador nos valores será o verdadeiro rosto da direita em Portugal, circunstância que hoje já ninguém pode sequer colocar em causa.
Isabel Ventura
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