Edição: 288

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/11/23

Opinião

Curioso brilho da violência

Nuno Catita

A cerimónia da 94ª edição dos Óscares de 2022, além da curiosidade dos escolhidos pela Academia de Hollywood, tinha como grande expectativa o destaque que seria dado à guerra na Ucrânia, e, sendo uma das transmissões televisivas com mais audiência mundial, com dezenas de milhões de espectadores por todo o mundo e no momento não existiria melhor veículo de divulgação e apelo ao fim da violência.

Pura desilusão, pouco mais houve que um minuto de silêncio em homenagem aos invadidos pela Rússia e projeção de frases alusivas ao pedido de envio de ajuda. Esperava-se mais, muito mais. Foi uma demonstração de distância tão grande deste conflito como os mais de 10.000 km que separam Los Angeles de Kiev.

O brilho da noite estava no regresso à normalidade, após dois anos influenciados pela pandemia. Pela passadeira vermelha passaram os vestidos dos maiores estilistas e as melhores criações de joalharia, brilhando a cada flash dos fotógrafos. Uma antítese das ruas de Mariupol, onde o vermelho é sinal de morte, a roupa é a que conseguiram vestir e o único brilho é fruto da explosão dos mísseis russos. Ainda assim, talvez os Óscares tenham sido mais lembrados na Ucrânia que a Ucrânia nos Óscares.

Curiosamente, a história do filme “CODA”, que arrebatou o Óscar para o melhor filme, retrata uma família de surdos, em que a exceção é a mais nova dos filhos e tem de decidir entre sacrificar os seus sonhos ou abandonar quem dela tanto precisa.

Curiosamente, o Óscar para a melhor canção foi para “No Time to Die”, de Billie Eilish, da banda sonora do filme “007- Sem Tempo Para Morrer”.

Curiosamente, o vencedor do Óscar para o melhor ator principal, Will Smith, não resistiu a uma piada de mau gosto à sua mulher pelo apresentador Chris Rock, subiu ao palco e agrediu o comediante.

Numa qualquer cave na Ucrânia, onde se procurava esquecer as atrocidades do dia e conseguiam assistir a este espetáculo, diminuiu a esperança perante a facilidade com que se escolhe a violência.

     Nuno Catita

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