Balbino & Faustino, Arfai Ceramics e Vista Alegre consomem muita energia
Aumento dos custos da energia obriga empresas da região a adotar planos de contingência
2022-05-26 10:54:22
O aumento do preço da eletricidade, gás e gasóleo verificado no final de 2021 e sobretudo nos primeiros meses de 2022, está a causar problemas nas empresas da região, que se queixam de dificuldades para continuar a laborar e manter os objetivos empresariais. As empresas Balbino & Faustino, Arfai Ceramics e Vista Alegre, contactadas pelo Tinta Fresca, apontaram como medidas a necessidade de readaptação das suas rotas de distribuição, o investimento em soluções ecologicamente mais sustentáveis, o aumento do produto final ou mesmo a suspensão dos seus planos para aumentar a produção e as instalações da empresa.
Marco Faustino, gestor da Balbino & Faustino, empresa de derivados de madeira, com sede na freguesia da Cela, referiu que ao nível dos custos, foram “afetados com o aumento significativo do custo dos combustíveis sólidos, nomeadamente o gasóleo rodoviário, que tem a variação que é pública”, provocando sobretudo impacto “na nossa logística, o que nos obrigou a rever os custos logísticos e refletir esse aumento de custos no produto final”.
Segundo o gestor, a redução dos custos energéticos pode passar “com o continuo investimento em soluções ecologicamente mais sustentáveis, dando seguimento aos investimentos em curso, nomeadamente com a instalação de iluminação LED, cogeração de energia, rentabilizando o uso de equipamentos nomeadamente ar condicionado, aspirações e ar comprimido, rentabilizando rotas de distribuição e em muitos casos, sempre que possível mantendo o teletrabalho, contribuindo desta forma para uma poupança também para o trabalhador”.
Verificando-se o aumento destas matérias, Marco Faustino refere que “os aumentos sobre os produtos comercializados foram uma constante em 2021 e a tendência manteve-se este ano. Muito desse aumento deve-se aos aumentos sucessivos da energia e fatores associados, como o transporte. Neste momento, mais que nunca, teremos de estar atentos às evoluções dos custos e dos mercados e realizar os ajustes que forem necessários de modo a assegurar o bom desempenho da organização”.
Por sua vez, Sofia Reis, responsável de Marketing e Comunicações da Arfai Ceramics, empresa da freguesia de Aljubarrota, dedicada à produção de cerâmica, que exporta grande parte da sua produção, referiu ao Tinta Fresca que em relação à percentagem do aumento dos custos com a energia, “tivemos um aumento de 544% em abril, comparando com período homólogo. Já em janeiro de 2022 este aumento era de 994%”.
Sofia Reis referiu que no caso da Arfai “não é de nenhuma forma possível colmatar o prejuízo que a nossa indústria está a sofrer. Foram solicitados aumentos aos nossos clientes, que não visam colmatar os prejuízos, mas apenas minimizá-los dentro do que é possível neste período difícil”.
Por forma a reduzir os custos energéticos, “a Arfai já tinha desenhado um plano de investimentos na área da eficiência energética, com parte dele já implementado, e continuaremos a investir nesta área por forma a diminuir consumos e custos. No entanto, o impacto destas medidas face ao aumento do gás natural e à nossa dependência deste é muito reduzido”.
Relativamente às consequências que pode acarretar para a empresa a continuação do aumento dos custos energéticos, Sofia Reis informou que “a Arfai já suspendeu por tempo indeterminado o seu plano de investimentos, que visava o aumento de espaço de fábrica e da capacidade produtiva – plano no valor de cerca de 1 milhão de euros – e será forçada a continuar a subir os seus preços, com o impacto que tais medidas vão ter junto dos clientes habituais do nosso produto. Atualmente não existem muitas alternativas credíveis no mercado, a China com o seu controlo demasiado apertado e preços muito elevados de transportes, tem levado os clientes a procurar alternativas, o que tem aumentado exponencialmente a procura por Portugal. Contudo, esta realidade mudará no futuro e haverá uma inversão dos clientes para outros mercados do mundo, caso esta escalada continue como temos assistido”, alertou.
Por sua vez, Teodorico Pais, administrador da Vista Alegre, empresa que trabalha o cristal e o vidro, com sede na União de Freguesias de Cós, Alpedriz e Montes, referiu ao Tinta Fresca que “a Vista Alegre Atlantis, como consumidor intensivo de energia para produção de Vidro e Cristal, teve um impacto brutal nos custos de energia atingindo no primeiro trimestre do ano, um aumento superior a 150%”.
No que se refere ao impacto na produção, o administrador da Vista Alegre, informou que “na produção de Cristal e Vidro, os fornos são de regime contínuo, não sendo possível interromper a laboração. No caso desta unidade de produção, o forno de Cristal é de fusão elétrica, e o de vidro de fusão a gás natural. Em função desta repartição de fontes de energia, o incremento de custo é menos acentuado nesta unidade, comparando com os registados em unidades da indústria cerâmica que recorrem ao gás como fonte primordial de energia. Mesmo tendo em conta esta circunstância o impacto é muito elevado no custo final da produção”.
Apesar dos esforços da empresa em colmatar os custos de produção, melhorando por exemplo a sua eficiência energética, “este aumento de custos tem um impacto direto na rentabilidade da empresa”, salientou Teodorico Pais, acrescentando que a redução dos custos energéticos pode ser possível continuando “a diversificar e a implementar medidas de eficiência energética, baseadas em fontes renováveis e na introdução de novas fontes energéticas (hidrogénio verde) em alternativa ao gás natural”.
Segundo Teodorico Pais “esta crise energética resulta de um efeito cumulativo das medidas impostas pela Comunidade Europeia para antecipar as metas de descarbonização e as alterações climáticas, e da dramática crise causada pelo conflito na Ucrânia, onde a Europa tem uma larga dependência de abastecimento do gás natural e do petróleo da Rússia. Portanto, é de todo previsível que com o aliviar do conflito e da implementação das medidas alternativas, haja uma estabilização dos custos do gás natural, ainda que em patamares superiores aos verificados antes da guerra”.
Para o administrador da Vista Alegre, “a única forma de lidar com esta crise energética será acelerar as medidas para redução da dependência das energias fosseis e suportar nesta fase de transição, uma perda de margem associada aos efeitos descritos. Também é importante referir que o Grupo Vista Alegre sente-se muito mais apoiado em pertencer a um grupo multinacional forte e competente como é o Grupo Visabeira”.
Mónica Alexandre
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