Grupo conta já com 352 assinaturas
Comissão de Profissionais dos CSP contesta formação da ULS da Região de Leiria
2023-02-10 09:13:20
O novo Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde emitiu uma deliberação (DE 013/2022 de 9 de dezembro de 2022) em que se formaliza a criação de um grupo de trabalho mandatado para elaborar um plano de negócios de uma Unidade Local de Saúde (ULS) da Região de Leiria, E.P.E.. Contudo, os profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) dos concelhos a serem integrados nesta eventual ULS, nomeadamente Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Ourém, Pombal e Porto de Mós, contestam a medida e anunciaram mesmo a constituição de uma Comissão de Profissionais dos CSP contra a ULS da Região de Leiria que, à presente data, conta já com 352 assinaturas.
“Esta Comissão nasce da frustração que nós, enquanto profissionais de saúde de proximidade das populações, sentimos perante um processo em que, em momento algum, não fomos ouvidos, nem foram consideradas as nossas legítimas preocupações e justificadas reservas em relação ao modelo ULS proposto pela Direção Executiva do SNS. E são várias”, adiantam os profissionais de saúde em comunicado datado de 9 de fevereiro.
A primeira é imediatamente consequente do processo em si, questionando como é possível implementar‐se um modelo que defende a integração de cuidados sem ouvir e conhecer os problemas, as dificuldades e a realidade dos profissionais dos CSP que são a base do SNS? “É contraditório com o objetivo final preconizado, a integração. Excluir não é integrar”, alegam.
O segundo demérito da ULS é relativo ao facto de, à presente data, e com a primeira ULS existente no país contar já com 23 anos, não existirem estudos ou outro tipo de trabalhos que demonstrem que as ULS sejam superiores em alcançar os ganhos de saúde que afirmam concretizar.
Pelo contrário, vários trabalhos disponíveis, de entidades diversas e independentes, apontam no sentido oposto: aumento global do número de reclamações; aumento do número de urgências; aumento dos custos com medicamentos e produtos farmacêuticos em internamento; aumento no número de hospitalizações desnecessárias; estagnação do tempo médio de espera para acesso a cirurgias programadas; aumento do tempo médio de estadia em internamento; aumento do tempo médio para primeira consulta hospitalar; entre, outros. Portanto, segundo esta Comissão, “é um processo que não se baseia em rigor técnico e/ou científico.”
Em terceiro lugar, os profissionais de saúde estão preocupados com o pouco tempo disponibilizado para a elaboração de um plano de negócios realista, multidisciplinar e integrador: apenas umas escassas 10 semanas. Especialmente, num período de ausências de profissionais e de sobrecarga de trabalho, por maior pressão por patologia aguda, num contexto de equipas incompletas e listas de utentes sobredimensionadas, após o natural desgaste decorrente da crise pandémica.
A disponibilidade de tempo para discussão e reflexão conjunta é, necessariamente, limitada. Além disto, assistiu‐se a uma alteração súbita da composição do grupo de trabalho responsável pela elaboração do plano de negócios da ULS, devido à saída dos cinco concelhos do norte do distrito e o envolvimento de outros três concelhos (Alcobaça, Nazaré e Ourém), de Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) e Administração Regional de Saúde (ARS) distintas, com formas de trabalhar diferentes, acrescendo ainda mais complexidade ao processo.
Como último ponto, os profissionais de saúde consideram que esta decisão não concretiza o idealizado no novo Estatuto do SNS, que deveria reforçar a proximidade e a descentralização, nomeadamente a nível dos CSP, com reforço da autonomia dos ACES. “A decisão por uma ULS é ainda mais incompreensível quando, o mesmo novo Estatuto do SNS, aponta para uma solução alternativa de integração de cuidados que salvaguarda a autonomia das diferentes partes e reforça a participação dos agentes da segurança social, proteção civil, educação e dos municípios (Sistemas Locais de Saúde)”, alegam.
Assim, “o modelo ULS pode, sim, ter o efeito deletério de agravar ainda mais as atuais frágeis condições para atrair novos profissionais dos CSP na Região, tão urgentes e necessários. Tal já foi aparente no último concurso, de janeiro de 2023, em que das 9 vagas disponibilizadas, apenas 3 foram preenchidas.”
Esta Comissão garante que enveredará todos os esforços necessários junto da população e autarcas dos concelhos de Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Ourém, Pombal e Porto de Mós, Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde e Ministério da Saúde de forma a os sensibilizar para o impacto negativo que a criação de uma ULS tem na qualidade da prestação de cuidados de saúde às populações destes concelhos, especialmente quando são conhecidas outras formas de organização e de integração de cuidados alternativas.
Assim, como primeiras ações, a Comissão irá pedir audiências urgentes com os autarcas dos concelhos mencionados, CIMRL, Direção Executiva do SNS e Ministério da Saúde, e iniciar formas de sensibilização da população.
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