Edição: 288

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/11/21

Inspirado na obra de Abraão Zacuto

Leiria Medieval chega à cidade de 20 a 23 de julho “Sob um Céu de Peixes”

Leiria Medieval

A décima edição do Leiria Medieval está agendada para decorrer entre os dias 20 e 23 de julho, que este ano será dedicado ao ano de 1496 e sob o tema “Sob um Céu de Peixes”, em referência à chegada da tipografia à cidade de Leiria.

Foi na tipografia de Abraão d’Ortas que, a 25 de fevereiro de 1496, foi impressa a primeira publicação, com o nome de Almanach Perpetum, da autoria de Abraão Zacuto, a qual compilava e explicava as suas tábuas de orientação celeste, fundamentais nas demandas marítimas por altura dos Descobrimentos, nomeadamente nas viagens até à Índia (1498) e ao Brasil (1500).

Na última linha da última página, Abraão Zacuto menciona a impressão “sob um céu de peixes”, frase que serviu de inspiração para o tema deste ano, num momento em que o país vivia ainda em plena convivência pacífica entre cristãos, judeus e muçulmanos.

A programação do 10.º Leiria Medieval será divulgada brevemente e, de 3 a 28 de abril, estarão abertas as inscrições para participar na recriação histórica, nomeadamente para mercadores, artesãos, místicos e artífices, podendo toda a documentação ser consultada no site do Município.

O Leiria Medieval, que acontece desde 2014, pretende ser um espaço de animação e convívio, cujo objetivo é dar a conhecer ao público as principais características da Idade Média em Leiria.

Enquadramento histórico

Nos primeiros meses de 1496, cristãos, judeus e muçulmanos levavam ainda uma vida relativamente tranquila na vila de Leiria. Embora nunca isenta de conflitos pontuais, a coexistência das três comunidades decorria entre regras escritas e não escritas, tal como tinha acontecido em décadas e séculos anteriores.

Quando Espanha expulsa a comunidade judaica do seu território, em 1492, um grande número refugia-se em Portugal, trazendo consigo ofícios e saberes, que contribuem enormemente para o desenvolvimento científico e técnico do Reino.

Abraão Zacuto é um desses casos e, nomeado Astrónomo e Historiador Real por D. João II, presta preciosos serviços à navegação, ensinando aos marinheiros o uso do astrolábio melhorado que inventou e, sobretudo, a utilização das suas tábuas astronómicas, decisivas na orientação das caravelas portuguesas em alto-mar. Permitiu salvar a vida de muitos marinheiros, bem como a descoberta das rotas marítimas para a Índia (1498) e para o Brasil (1500).

Foi em Leiria, na tipografia de Abraão d’Ortas, que Zacuto publicou, em 1496, com tradução para o latim do Mestre José Vizinho, médico da corte e astrónomo, o seu célebre Almanach Perpetuum, onde se compilavam e explicavam as suas tábuas de orientação celeste.

Alguns meses antes, em finais de outubro de 1495, D. Manuel I é aclamado rei. Primo de D. João II e irmão da rainha D. Leonor, ascende ao trono após uma sucessão de imprevistos, mais ou menos dramáticos (morreram os oito candidatos mais diretos ao trono, sendo o maior desastre a morte de D. Afonso de Portugal, filho do rei D. João e seu natural sucessor).

Em 1492, Espanha expulsa os judeus de todo o reino. D. João II permite-lhes a entrada, aos milhares, embora em condições muito precárias, e forçando-os a condições de vida frequentemente desumanas.

D. Manuel I tem com eles relações muito mais amigáveis. Mas por pouco tempo…

No final de 1496, D. Manuel casa com D. Isabel de Aragão e Castelo, viúva do malogrado filho primogénito de D. João II, e, numa viragem radical da sua política de tolerância, fruto do acordo de casamento, decreta que todos os não cristãos (judeus e muçulmanos) que não se quisessem batizar, deveriam abandonar o Reino no prazo de dez meses, sob pena de morte, depois de verem todos os seus bens confiscados.

Quebra-se, assim, a instável harmonia destas três comunidades aqui e por todo o Reino.

Mas ainda não.

Por enquanto, ainda seca a tina do ‘Almanaque Perpétuo’, impresso em Leiria a 25 de fevereiro, sob um céu de peixes, como se regista na última linha da sua última página.

Edições anteriores

2014 | Em tempos d’El Rey D. Dinis
2015 | Isabel, Raynha Santa
2016 | 1385 – D. João I, Rei dos Portugueses
2017 | Infante D. Duarte, Herdeiro da Coroa
2018 | 1401 – Aqui nasceu a Casa de Bragança
2019 | 1411 – As memórias do Moinhos do Papel
2020 | Leiria 1437
2021 | As Cortes de Leiria de 1254
2022 | As Cortes de Leiria de 1438

     Fonte: DCRP|CML

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