Edição: 286

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/9/8

23/09/2023 – Comemoração das Jornadas do Património Europeu

Terra Mágica das Lendas

Ana Cristina Tavares

No passado dia 23/09/2023, dia das Jornadas do Património Europeu, a Cooperativa Cultural Terra Mágica das Lendas comemorou este dia com o apoio de várias associações culturais, juntas de freguesia e empresas. Este ano as Jornadas tiveram por mote o “Património Vivo”.

No dia 23/09 foram inaugurados totens com QR Code, em vários pontos da antiga Estrada Real D. Maria I, desde a Asseiceira (Rio Maior) até à vila da Batalha.

Este evento pretendeu divulgar um património nacional, sobre o qual refletiram pelo menos alguns outros europeus que transitaram pela dita estrada e nos deixaram testemunhos escritos com as impressões dos sítios por onde passaram. Por outro lado, foram recolhidos testemunhos orais de pessoas com memórias da antiga estrada, os quais foram passados a escrito e se encontram agora nos respetivos códigos, acessíveis a outras gerações. Desta forma, é feita a passagem de testemunho patrimonial de geração em geração.

Alto da SerraNa Asseiceira, a inauguração foi feita com a presença da senhora presidente da Junta de Freguesia, D. Filipa Raimundo, no local em que D. Lucília tinha plantado uma oliveira em 25/03/2023.

No Alto da Serra teve lugar um discurso prévio pelo senhor António Coito, presidente do Conselho de Melhoramentos do Alto da Serra. A seguir discursou o senhor João Rebocho, presidente da Junta de Freguesia de Rio Maior. Logo após a inauguração, feita em conjunto com o senhor António Coito, foi colocada uma coroa de flores junto ao totem. Voltou a discursar o senhor António Coito sobre a Comissão de Melhoramentos do Alto da Serra, numa perspetiva histórica e foi colocada uma coroa de flores junto ao monumento que honra os falecidos membros, da dita comissão. Seguiu-se uma missa na Capela Nossa Senhora da Saudade e por fim um beberete oferecido pela Comissão de Melhoramentos a todos os presentes.

Na Lagoa do Frei João (Benedita), no lugar onde tinha sido plantada uma nogueira em 25/03/2023, em frente à taberna Ti Maria Galinha, o senhor Júlio Carriço inaugurou o totem, em colaboração com a professora Lúcia Serralheiro, diretora da Terra Mágica das Lendas. Neste lugar algumas pessoas leram partes do texto que consta no QR Code e foram ainda lidas algumas poesias alusivas ao momento.

No Covão do Milho (Turquel) o senhor António David Carvalho, presidente da Associação da Maré – Redondas, procedeu à inauguração do totem. Ana Tavares, elemento da Terra Mágica das Lendas, leu o texto que se pode consultar no respetivo código e D. Rosa Marques leu poemas sobre aquela ocasião.

Em Moleanos, o totem foi inaugurado com a presença do senhor Fernando Azeitona, presidente da Junta de Freguesia de Évora de Alcobaça e do representante do senhor José Lourenço, presidente da Junta de Freguesia de Aljubarrota, uma vez que esta localidade pertence às duas freguesias. Estiveram também presentes o senhor Luís Ferreira, presidente do Rancho Folclórico dos Moleanos, bem como algumas pessoas dos Moleanos de Aljubarrota.

Em Jardoeira (Batalha), a inauguração contou com a presença do Dr. Adélio Amaro, presidente do Conselho de Património da Estremadura (C.E.P.A.E.) e o senhor Fernando Oliveira, presidente da Junta de Freguesia da Batalha.

A plantação de árvores em alguns destes lugares no dia 25/03/2023 ou a homenagem prestada a árvores já existentes nos locais designados, deve-se à prestação de um tributo à rainha D. Maria I, que pelo alvará datado de 11/03/1796, IX, manda plantar árvores da mesma espécie das existentes nos locais, ao longo da Estrada Real.

Na Lagoa do Frei João e no Alto da Serra a Terra Mágica das Lendas teve a honra da presença da Dr.ª Ana Verde de Oliveira, descendente de um dos autores dos mapas topográficos desde Lisboa a Coimbra. Neste caso em concreto, foi o engenheiro Joaquim de Oliveira incumbido, segundo o alvará de 28/03/1791, de realizar o levantamento topográfico do troço de Leiria até Coimbra. O mapa tem a referência do local e data, Condeixa, 1796.

Mapa Topográfico levantado pelo engenheiro Joaquim de Oliveira

Aproveitámos a magnífica oportunidade para realizar uma entrevista à economista, Dr.ª Ana Oliveira, no seu solar em Leiria. É de referir que a entrevistada participa nas Jornadas Europeias de Património, desde 2011, na sua casa senhorial de Leiria.

A Dr.ª Ana começou por referir que o seu antepassado Joaquim Oliveira, natural de Lisboa, na antiga Rua dos Calafates, hoje Rua Diário de Notícias, devido aos trabalhos incumbidos pela Rainha D. Maria I, na região de Leiria resolveu ter uma segunda residência, esta na cidade de Leiria, datada de 1780-1781 ao estilo da época. A fachada       denota o estilo neoclássico e o interior possuí um conjunto de artes decorativas em estilo rocócó tardio, evidenciando já algumas características neoclássicas, com tetos estucados, obra do estucador Joachim Putze, (putze, que significa estucador em alemão) e tetos pintados em madeira, assim como painéis de azulejos.

A entrevistada julga que o seu antepassado terá permanecido em Leiria, para a realização dos trabalhos, de levantamentos topográficos, da Estrada Real D.  Maria I, de Lisboa, Coimbra e provavelmente até à cidade do Porto. Também poderá ter estado envolvido em projetos de arquitetura, de infraestruturas, de carácter social.

Com as Invasões Francesas a cidade de Leiria foi muito destruída. Consta que a Casa Senhorial Verde Oliveira terá servido de quartel-general às tropas francesas invasoras e terá sido saqueada no seu interior, valendo um caseiro que estava por perto e terá evitado o pior.

Nas lutas entre absolutistas e liberais, Joaquim d’Oliveira, que pertencia ao grupo dos liberais, esteve em risco de ser preso.

O seu filho, Olímpio Joaquim, exerceu funções nos Paços de Concelho de Leiria, Vila Viçosa e Lisboa, tendo participado na elaboração do primeiro Código Administrativo do país.

O bisavô da Dr.ª Ana, Carlos Augusto Oliveira, faleceu em Lisboa, no ano de 1925. Este seu bisavô casou com a prima em primeiro grau do saudoso poeta, Cesário Verde, e teve funções no reino, tendo servido o rei D. Luís e D. Carlos. Quando se deu a mudança de regime em Portugal, o bisavô foi afastado das suas funções.

A Dr.ª Ana Oliveira dinamiza atividades como visitas guiadas, workshops, teatro, palestras, concertos, à Casa Senhorial Verde Oliveira. Criou uma marca própria de   merchandising cultural “Rocaille Leiria”, com uma produção de vários artigos, como por exemplo, blocos de notas, sacos em lona, canecas, saquetas de cheiro e velas perfumadas dentro de vidro soprado à mão da Marinha Grande.

Há doze anos que participa nas Jornadas Europeias do Património. Este ano, cujo tema foi o “Património Vivo”, realizou um evento com uma mostra do Artesanato Regional de Leiria, onde esteve presente o Centro de Artesanato (CEARTE). Também tem participado no “Early Music Day” (Dia da Música Antiga), uma iniciativa europeia, que celebra o aniversário de Johann Sebastian Bach e o início da primavera. Este ano e o ano passado a sala encheu, com esta iniciativa. Neste ano vieram estudantes de música tocar cravo e no ano passado destacou-se a participação da MAAC, em que o conceituado violoncelista português, Gonçalo Lélis, veio interpretar obras de Bach.

Encontrou-se a braços com a dificuldade, que para si foi esperar seis anos, pelo licenciamento camarário, de forma a poder levar a cabo as obras necessárias na Casa Senhorial Verde Oliveira.

Ana Verde Oliveira, que frequentou o Mestrado de Projetos Culturais, é membro de várias associações ligadas ao património cultural, como a Associação Portuguesa de Casas Históricas, a European Historic Houses (E.H.H.) e a Europa Nostra.

Esperemos num futuro próximo, após as obras previstas, a abertura de uma pequena unidade para turismo, para além do desenvolvimento de vários eventos também de âmbito cultural.

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