Edição: 286

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/9/8

Por proposta da Alambi

Alenquer homenageou Camões no 500º aniversário do seu nascimento com placa evocativa no Jardim das Águas

Ator representando Camões junto à placa alusiva ao poeta

Por proposta da Alambi, Alenquer homenageou Camões no 500º aniversário do seu nascimento, com o descerramento de uma placa invocativa do poeta, no jardim das Águas, local dos olhos de água invocados no canto III de Os Lusíadas.

Camões referiu várias vezes Alenquer na sua obra, quer na lírica, quer na correspondência, quer em Os Lusíadas, mostrando um bom conhecimento deste território. Por outro lado, são conhecidas as ligações da sua família a Alenquer. Não é por acaso que os estudos documentais que são publicados sobre o poeta, continuam a apontar Alenquer como um dos locais prováveis do seu nascimento.

Com os descobrimentos marítimos os europeus deram-se conta do esplendor da natureza. Camões descobriu esse mesmo esplendor numa singularidade geológica localizada dentro de Alenquer.

Proposta da Direção da Alambi – Associação para o Estudo e Defesa do Ambiente do Concelho de Alenquer. para edificação de uma lápide a Camões nos olhos de água de Alenquer

São conhecidas as ligações de Luís de Camões a Alenquer. Segundo Luciano Ribeiro (Vasco Perez de Camões, Alcaide de Alenquer, Lisboa, 1949), a família de Camões seria de origem galega, tendo o seu trisavô vindo para Portugal com o exército do rei D. Fernando, a quando de uma invasão que este fez à Galiza em 1369, intervindo numa disputa dinástica. O trisavô de Camões, Vasco Perez, terá tomado partido, nessa disputa, pelo lado perdedor e, quando as tropas portuguesas retiram da Galiza, veio para Portugal com o exército de D. Fernando. Terá então entrado no círculo da rainha D.ª Leonor, tornou-se amigo do Mestre de Avis e obteve vastos domínios, de entre os quais as alcaidarias de Vila Verde dos Francos e de Alenquer, esta concedida em 1383 por D. Fernando. Na crise dinástica de 1383, desencadeada com a morte do rei, Vasco Perez terá tomado o partido de Castela, cujo rei era agora D.Juan II e participou na batalha de Aljubarrota pelo lado castelhano, onde foi feito prisioneiro. Terá sido despojado dos seus bens, mas, D. João I teria consideração por ele e ainda lhe manteve algumas concessões, entre as quais, casas em Alenquer.

Filipe Rogeiro, por outro lado, num artigo intitulado «Origens de Camões» – A teoria de Mário Saa, expôs a tese deste autor, segundo a qual serão outras as origens da família de Camões e a sua ligação a Alenquer remonta aos tempos da conquista cristã do sul de Portugal aos mouros.

Seja qual for a história da ancestralidade de Camões e da sua ligação a Alenquer, o certo é que a obra do poeta demonstra um conhecimento apurado da região, próprio de quem aqui viveu, percorreu caminhos, ou aqui terá nascido.

É por demais conhecido o soneto em que Camões diz, criou-me Portugal na verde e cara pátria minha, Alenquer, que sugere uma ligação a Alenquer que vem dos tempos de infância (que alguns biógrafos, no entanto, dizem tratar-se de um epitáfio dedicado a um soldado alenquerense seu amigo); menos conhecida, porém, será a sua amizade com D. António de Noronha, fidalgo da casa senhorial de Vila Verde dos Francos e vice-rei da índia, a quem o poeta dedicou um soneto depois de ter conhecimento da sua morte, ocorrida em 1573.

Catarina de Ataíde, a célebre Natércia de Camões, seria, segundo Luciano Ribeiro (A Fundação de Vila Verde dos Francos), uma neta de Vasco da Gama e mulher de D. Pedro de Noronha, sétimo senhor de Vila Verde dos Francos.

Atesta o grande conhecimento que Camões tinha da região, uma referência aos touros da Merceana, numa das cartas da índia, em que, queixando-se da inveja, da maledicência e da ingratidão dos homens de Portugal, abençoa a sua partida para a Índia, onde, diz, «vivo mais adorado que os toiros da Merciana», demonstrando um grande conhecimento da adoração que nesta terra era prestada ao boi Marciano, ídolo da confraria da Nossa Senhora da Piedade, detentora de uma ganaria.

Não é por acaso que o largo principal da Merceana tem o nome de Camões, como pode ser verificado no memorial que ali foi erguido ao poeta, com a inscrição da sua referência aos touros que em tempos ali usufruíam de boas pastagens e se converteram em motivo de adoração religiosa. No canto III d’Os Lusíadas, estância 61, narrando a conquista aos mouros das cidades e vilas do sul de Portugal pelo rei Afonso Henriques, com a ajuda de uma esquadra de cruzados, exclama:

Já lhe obedece toda a Estremadura,

Óbidos, Alanquer (por onde soa

O tom das frescas águas entre as pedras,

Que murmurando lava) e Torres Vedras.

O local de Alenquer referido por Camões, de onde brotam frescas e abundantes águas por entre as pedras, é bem conhecido e perdura nos nossos dias, embora já com feições artificias que não teria ao tempo em que o poeta aqui terá vivido. Camões escreveu sobre os olhos de água de Alenquer, situados no jardim das Águas, essa fonte generosa que o impressionou, que constitui uma singularidade geológica da vila que, anualmente continua a proporcionar um generoso espetáculo natural que nos deleita.

Sendo uma honra para Alenquer ter referenciada n’Os Lusíadas – a grande obra poética que constitui o símbolo da portugalidade – uma das suas mais impressionantes belezas naturais, a Alambi propôs à Câmara Municipal a edificação no Jardim das Águas, junto aos olhos de água, de uma lápide invocativa de Camões com o trecho da grade obra do poeta invocativo daquele lugar.

Vídeo dos olhos de água gravado este inverno:  https://www.facebook.com/watch/?v=1622336211552213 Alenquer, 2 de Abril de 2024

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