Edição: 289

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/12/3

MIA volta a exigir o rápido encerramento da Central Nuclear de Almaraz

Movimento Ibérico Antinuclear assinala 35 anos do acidente nuclear em Chernobil

MIA exige o encerramento da Central Nuclear de Almaraz

Faltavam exatamente 2 segundos para as 2 horas e 24 minutos do dia 26 de Abril de 1986 quando o reator nº4 da Central Nuclear de Chernobil, e o edifício onde estava instalado, foram devastados por uma sucessão de explosões. Acabava de acontecer o mais grave acidente nuclear do século XX. As suas consequências de uma dimensão dramática ainda hoje não são suficientemente conhecidas.

Nos dias seguintes, a nuvem radioativa irá atingir os países da Europa Central, seguindo-se a Bélgica, a França e a Inglaterra. O aumento dos níveis de radiação foi observado, ao longo da semana seguinte, em países como a Índia, o Japão, o Canadá e os Estados Unidos. O acidente ocorrido na Ucrânia estava a contaminar todo o Planeta.

Ainda que o acidente tenha ocorrido em território ucraniano, é a Bielorrússia o país com a maior superfície, em percentagem, contaminada. Quase um quarto (23%) do seu território, com parte substancial das suas florestas e lezírias, estão situados na zona contaminada.

A União Soviética de que, à época, a Ucrânia e a Bielorrússia eram parte integrante, enviou para o local centenas de milhares de “liquidadores”, os indivíduos encarregados de mitigar as consequências, gente sem preparação nem proteção adequada. Apenas do lado da Bielorrússia, que contribui com mais de 110.000, mais de 80% morreram até 2003. Provavelmente nunca se saberá o número exato de vítimas, mas seguramente são muitas centenas de milhares. Sobre o reator, no seu sarcófago, nada se sabe.

A história tem mostrado que é muito difícil de prever o desenrolar de acontecimentos como os ocorridos no grave acidente nuclear de Chernobil e que a gestão das centrais nucleares e dos resíduos aí produzidos, que têm de ser mantidos e vigiados durante milhares de anos, é uma herança com futuro incerto legada às gerações vindouras.

Portugal e o seu contributo contra o nuclear

No combate ao nuclear, Portugal deu um contributo importante na luta antinuclear ao encerrar há 20 anos, em 2001, a atividade mineira de exploração de urânio que decorreu sobretudo no centro do país, e ao não construir nenhuma Central em Ferrel, conforme esteve previsto nos anos 70 do século passado.

A Central Nuclear de Almaraz

Segundo a Comissão Coordenadora do MIA em Portugal, “o triste dia, que hoje se assinala, deveria fazer-nos refletir seriamente sobre a Central Nuclear de Almaraz, localizada a cerca de 100 km da fronteira com Portugal e junto ao rio Tejo, uma vez que esta situação apresenta inquietantes semelhanças com a ocorrida na Bielorrússia, país também com 10 milhões de habitantes e que também não possui centrais nucleares mas, no entanto, foi o mais castigado e onde as doenças oncológicas registaram aumentos da ordem de 75 vezes mais.”

Ainda segundo o MIA, “a Central de Almaraz continua a revelar-se como um potencial perigo em especial para toda a região transfronteiriça dado que já ultrapassou o seu período normal de funcionamento e, não obstante, viu prolongado em 10 anos o seu período de atividade, até 2020, e agora, o Governo Espanhol pretende estender este período por ainda mais 8 anos! Apesar de todos os incidentes que têm ocorrido nesta Central Nuclear, e da sua já longa vida (já mais de 40 anos de idade), o consórcio de empresas que a explora pretende, com a conivência do Governo Espanhol, prolongar ainda mais o seu período de funcionamento, até 2030, pelo menos. É uma temível bomba-relógio que nos ameaça e que, tranquilamente, continuamos a ignorar.”

O triste historial do Nuclear

Já em 1979 tinha existido um acidente grave na Central Nuclear de Three Miles Island, nos Estados Unidos da América, e mais recentemente, em 2011, outro grave acidente ocorreu, desta vez na Central Nuclear de Fukushima no Japão, tendo este sido também um dos mais severos da história do nuclear. Temos assim os três maiores acidentes nucleares da história (estes dois e o de Chernobil) em três dos países mais avançados nas tecnologias da indústria nuclear e é pois importante refletir sobre os problemas de segurança inerentes a este tipo de centrais. Para culminar toda esta história trágica que é a do nuclear, o Japão prepara-se agora para lançar no Oceano Pacífico milhões de litros de água contaminada, oriunda do arrefecimento dos reatores acidentados.

a Comissão Coordenadora do MIA em Portugal considera que “a opção pela fissão nuclear é contrária ao princípio da precaução e põe em causa a norma ética da equidade transgeracional e da segurança nacional e transnacional, sendo que à luz dos atuais conhecimentos, esta opção não é uma solução energética aceitável devido aos seus gravíssimos impactes no ambiente e na saúde humana. Neste dia simbólico, em que se assinalam os 35 anos sobre o acidente nuclear de Chernobil, é pois importante continuar a alertar para os riscos que esta forma de energia comporta, e para a urgência de nos indignarmos contra esta estranha forma de loucura que atingiu o ser humano. Para que Portugal e o mundo fiquem menos expostos aos perigos do nuclear.”

Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura, escreveu em 2015 (“As vozes de Chernobyl” – Ed. Elsinore) transcrevemos: “A mesma terra, a mesma água, as mesmas árvores…no entanto…ao entardecer, vi os pastores a tentarem encaminhar o rebanho cansado para o rio, mas as vacas voltavam para trás, mal se abeiravam. De alguma forma apercebiam-se do perigo. Disseram-me também que os gatos deixaram de comer ratos mortos. A morte escondia-se em todo o lado, mas era uma morte diferente. Sob novas máscaras. Com um disfarce desconhecido.”

   Fonte: MIA

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