Opinião
Autárquicas em Alcobaça
2025-08-03 00:46:33

Nuno Catita
À medida que os nomes para as próximas eleições autárquicas em Alcobaça começam a ser anunciados, fica claro que pouco mudou no tabuleiro local. Entre velhos rostos que insistem em repetir-se, jogadas de última hora e artimanhas estratégicas, o espetáculo político repete como seria de esperar: manter o poder, lançar ocasionalmente alguns peões novos para entreter e, no fim, deixar a população com a sensação amarga da mesma desilusão de sempre.
Pelo lado do PSD, nada de surpresas. O atual presidente recandidata-se para um segundo mandato. Está no executivo desde 1997, ano em que foi eleito vereador pela primeira vez. A bem dizer, conhece os corredores da Câmara melhor do que os funcionários que já se reformaram. A última verdadeira surpresa por aqueles lados foi a ascensão de Paulo Inácio à presidência em 2009, o então presidente da Assembleia Municipal ultrapassou internamente o vice-presidente Carlos Bonifácio e o vereador Hermínio Rodrigues. Desde então, tudo funciona em modo linha de montagem: duas ou três cabeças pensam, decidem e distribuem, e os restantes limitam-se a assinar por baixo. Nada se mexe fora do guião. E, pelos vistos, é assim que se sentem mais seguros e confortavelmente instalados. Tão confortáveis que até a mais ténue sombra, mesmo sem intenção de disputar protagonismo, é “empurrada” para fora de cena. Não vá dar-se o caso de, por distracção ou mérito, a história se repetir. No fundo, a insegurança tem destas ironias: veste-se de conforto, mas vive com medo da competência alheia.
No PS, a coisa roça o caricato. A súbita desistência de Carlos Guerra, cujas razões continuam envoltas em mistério (ou talvez só embaraço), atirou os socialistas para uma espécie de “caça ao candidato” em modo SOS. E, como se sabe, em caçadas apressadas, raramente se apanha caça grossa. Diogo Ramalho, com apenas 24 anos, aceitou o desafio de liderar o que parece ser mais uma candidatura simbólica do que um verdadeiro projeto de poder. Talvez para evitar a vergonha da falta de comparência, talvez apenas para manter o nome do partido no boletim. Que o PS tem, entre os seus quadros, um ou dois nomes de grande capacidade, não duvido. Mas, por uma razão ou por outra, leia-se cálculo político, preferem esperar por tempos menos adversos.
A Iniciativa Liberal voltou a surpreender. Depois da boa prestação de Miguel Silvestre em 2021, sério, preparado e conhecedor das dinâmicas locais, surge agora Sandra Amaro. Ficou conhecida pelos protestos para alterar a implantação da Área Empresarial da Benedita, alegando ter existido ali uma granja monástica… ou até um mosteiro beneditino (!). Entre petições e arqueologia de ocasião, gerou mais perplexidade do que apoio. A contestação, que podia ter sido séria, tornou-se folclore mediático. Resultado: perdeu credibilidade e, na Benedita, dificilmente será recebida de braços abertos.
O PCP regressa ao passado. Literalmente. Rogério Raimundo volta a ser o rosto da CDU. Foi vereador entre 1998 e 2013, fez uma pausa (quando Vanda Marques foi eleita em 2013) e regressou como cabeça de lista em 2017, sem sucesso. Agora, aos 74 anos, insiste em voltar. Persistência? Sim. Renovação? Não propriamente. O PCP parece sofrer de uma espécie de “síndrome de Álvaro Cunhal”: quanto mais antigo, mais respeitável. Só que, eleitoralmente, os tempos mudaram. E muito.
No campo do CHEGA, repete-se o nome de Isabel Ventura, candidata também em 2021. O partido teve, em Alcobaça, o segundo melhor resultado concelhio nas legislativas, o que deixava antever uma candidatura mais ambiciosa. Mas, pelos vistos, nem todos estão disponíveis para assumir esse papel. Continuamos a ver muito ruído e pouca estrutura. E, no fundo, talvez a candidatura seja mais sobre “marcar posição” do que realmente disputar a vereação.
E o CDS? Bem… parece estar em modo invisível. Depois de ter elegido Carlos Bonifácio em 2013 e 2017 (curiosamente, um ex-vice do PSD), o partido apostou, em 2021, no professor António Vieira, quase desconhecido da maioria do concelho, e que ficou, como era previsível, fora da vereação. Para 2025, ainda nada foi anunciado. Mas tudo indica que seguirá pela mesma linha: discreta, inofensiva e cada vez mais irrelevante.
Resumindo: para o candidato do PSD, a principal oposição poderá ser… a abstenção. A falta de comparência está a tornar-se o novo rosto da oposição, seja por desistência voluntária, seja pela eficácia da arte política de eliminar adversários ou impedi-los de sequer avançar. E, com este cenário, uma maioria absoluta não será propriamente uma vitória: será apenas a consequência natural de um caminho cuidadosamente limpo de obstáculos.
Nuno Catita
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