Lançamentos orbitais em Abril de 2021
2021-05-28 19:24:56
O mês de Abril foi o mais activo em termos de lançamentos orbitais no corrente ano. Por outro lado, numa comparação estatística que terá pouco significado em termos comparativos, teremos de recuar até Abril de 1990 para encontrar um mês de Abril com mais lançamentos do que o que foi registado em Abril de 2021. Bom, estatísticas à parte, vamos lá ver o que foi colocado em órbita em Abril de 2021.
Mais uma vez, e por sua conta, em Abril, a empresa Norte-americana Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX), colocou em órbita o maior número de satélites – 120 – para a sua rede global de fornecimento de serviços de Internet de alta velocidade. A SpaceX projectou a Starlink para conectar utilizadores de Internet com baixa latência, oferecer serviços de distribuição de elevada largura de banda fornecendo uma cobertura continua em todo o mundo usando uma rede de milhares de satélites em órbitas terrestres baixas, especialmente em lugares onde a conectividade é fraca ou inexistente, como por exemplo em zonas rurais. Os Starlink também darão cobertura em locais onde os serviços existentes são instáveis ou de elevado custo.
Estes lançamentos da SpaceX tiveram lugar a 7 e 29 de Abril, utilizando foguetões Falcon-9 lançados desde o Cabo Canaveral.
A 8 de Abril a China colocava em órbita o satélite Shiyan-6 (03). Lançado por um foguetão Chang Zheng-4B desde Taiyuan, o Shiyan-6 (03) é um veículo destinado a levar a cabo medições do ambiente espacial e testar o equipamento associado. Geralmente, estes satélites foram utilizados no passado para testar tecnologias que serão aplicadas noutras missões no futuro.
Assinalando o 60.º aniversário do primeiro voo espacial tripulado realizado a 12 de Abril de 1961 e que transportou o cosmonauta Yuri Gagarin, a cápsula espacial Soyuz MS-18 foi baptizada em honra do primeiro ser humano a orbitar a Terra. Lançada a 9 de Abril por um foguetão Soyuz-2.1a a partir do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, a Soyuz MS-19 transportou três novos elementos para a tripulação permanente da estação espacial internacional, nomeadamente Oleg Novitsky (Comandante, Rússia), Pyotr Dubrov (Engenheiro de Voo nº 1, Rússia), e Mark Vande Hei (Engenheiro de Voo n.º 2, EUA).
Uma nova missão espacial tripulada foi lançada a 23 de Abril a partir do Centro Espacial Kennedy, Ilha de Merritt – Florida, transportando outros elementos para a tripulação permanente da estação espacial internacional. Lançada por um foguetão Falcon-9, a Crew Dragon Endeavour era tripulada por Robert Kimbrough (Comandante, EUA), Katherine McArthur (Piloto, EUA), Akihiko Oshide (Especialista de Missão n.º 1, Japão) e o espaçonauta Thomas Pasquet (Especialista de Missão n.º 2, França).
Através da empresa Starsem, uma filial da empresa Arianespace, a Rússia realizou o lançamento de 36 satélites OneWeb a 25 de Abril. O lançamento foi realizado com um foguetão Soyuz-2.1b/Fregat a ser lançado desde o Cosmódromo de Vostochniy. A constelação OneWeb é uma constelação que deverá ser composta por 648 satélites para fornecer acesso à Internet em todo o globo para consumidores individuais e companhias aéreas, além de serviços a operadores marítimos, serviços de backhaul, comunidades de Wi-Fi, serviços de respostas de emergência, etc.
Uma vez estabelecida em órbita, a rede OneWeb irá oferecer serviços 3G, TLE, 5G e cobertura Wi-Fi, fornecendo um acesso de alta velocidade em todo o mundo (por ar, terra e mar).
Um satélite espião foi colocado em órbita pelos Estados Unidos a 26 de Abril a partir da Base Aérea de Vandenberg, Califórnia. Esta missão foi designada NROL-82 para esconder a verdadeira natureza da sua carga. O lançamento foi realizado por um foguetão Delta-IVHeavy e após entrar em órbita, o satélite recebeu a designação militar USA-314. Crê-se que o satélite a bordo tenha sido um veículo KH-11 Improved Crystal.
Podemos imaginar os satélites Improved Crystal, como o telescópio espacial Hubble com um grande sistema de propulsão acoplado na sua parte posterior proporcionando assim manobrabilidade ao satélite. Tal como o telescópio espacial, estes satélites têm 4,5 metros de diâmetro e 15,0 metros de comprimento (com a adição do sistema de propulsão). Sem combustível, os satélites terão uma massa de cerca de 10.000 kg, tendo um peso total de 18.000 kg. A geração anterior de satélites deste tipo, os KH-11, tinha um peso inferior. No entanto, e com a capacidade de transportar uma maior quantidade de propelente, os Improved Crystal têm uma vida operacional mais prolongada e uma melhor capacidade de manobra, permitindo-lhe assim uma cobertura superior da superfície terrestre. Os Improved Crystal são fabricados pela TRW e pela Lockheed Martin.
A China levou a cabo o lançamento de nove satélites a 27 de Abril utilizando um foguetão Chang Zheng-6 a partir de Taiyuan. A bordo seguiam os satélites de detecção remota Qilu-1 e Qilu-4, bem como o satélite Foshan-1, um satélite de detecção remota por meios ópticos. Os outros satélites a bordo eram o Hangsheng-1, Tianqi-9, Origin Space Neo-01, Tai King-2-01, Jinzijing-1 e Jinzijing-1-02.
Os satélites Qilu-1 e Qilu-4 são dois satélites de detecção remota pertencentes aos Institutos Shandong de Tecnologia Industrial. No futuro, a constelação Qilu será composta por uma variedade de satélites, incluindo satélites ópticos e satélites de radar conectados por links de comunicação a laser. Os dados de detecção remota de vários satélites complementam-se e são fundidos diretamente e processados em órbita para fornecer dados comerciais de alta precisão no solo sem serem afectados pelas condições meteorológicas. A resolução esperada pode ser de até 0,5 metros, distinguindo claramente veículos terrestres e outros objetos, e pode ser amplamente utilizada em áreas importantes como gestão urbana e governação ambiental no futuro.
O Foshan-1 é um satélite de detecção remota óptica desenvolvido pela Cultivate Space Technology Co. para o Jihua Laboratory. O satélite é semelhante ao Qilu-4, tem uma vida operacional de 3 anos e está equipado com uma câmara pancromática de alta resolução e será usado para verificação em órbita de plataforma flexível e design integrado, desenho ultraleve da sua câmara de observação, e tecnologia de imagem de resolução.
O Hangsheng-1 – também denominado Zhongan Guotong-1 – é um satélite óptico de detecção remota e a sua carga útil principal inclui câmaras de luz visível, também transportando cargas úteis de verificação tecnológica O satélite foi desenvolvido e será operado pela Hunan Hangsheng Satellite Technology Co., Ltd. e pela Zhongan Guotong Satellite Technology Development Co., Ltd.
O Tianqi-9 é um satélite de comunicações para a IoT (Internet of Things – Internet das Coisas), que também transporta uma câmara para fins educacionais. O satélite é desenvolvido pela Shanghai ASES Spaceflight Technology Co. Ltd., sendo operado pela Beijing Guodian High-tech Technology Co., Ltd.
O Origin Space NEO-01 é um satélite de pesquisa científica e verificação de tecnologia desenvolvido pela Shanghai ASES Spaceflight Technology Co. Ltd.. Operado pela Shenzhen Origin Space Technology Co., Ltd., será usado para realizar pesquisas científicas baseadas em pequenas observações de corpos celestes e verificação de tecnologia de protótipos para aquisição de recursos espaciais em órbita baixa.
O Taijing-2-01 é um satélite óptico de detecção remota desenvolvido e operado pela Beijing MinoSpace Technology Co., Ltd. O satélite será usado principalmente para detecção remota da superfície da Terra e pode fornecer aos clientes uma gama completa de serviços de imagens de sensoriamento remoto. O satélite também é denominado “Jiashi Dongli Xianfeng hao” ou “Pioneiro do Poder de Colheita”.
O Jinzijing-1 e o Jinzijing-1-02– também designados Lingque-1 D02 – são dois satélites de detecção remota de luz visível usados para a observação de alvos terrestres. A Beijing ZeroG Space Technology Co., Ltd. desenvolveu e operará os dois veículos.
A primeira missão da Arianespace em 2021 teve lugar a 29 de Abril com um foguetão Vega a ser lançado desde o CSG Kourou, Guiana Francesa, para colocar seis satélites em órbita.
Esta foi a missão VV19 e a sua carga principal foi o satélite Pleiades Neo 3. Os outros satélites eram o NORSAT-3, ELO Alpha (Tyvak 182A), All-Bravo, Lemur-2 (138) e Lemur-2 (139).
A constelação de satélites Pléiades-Neo será constituída por quatro veículos de observação da Terra em muito alta resolução. A constelação foi desenvolvida pela Airbus Defence & Space projectada como sucessora dos satélites Pléiades-HR. Os satélites são capazes de uma resolução no solo de 30 cm, possivelmente utilizando espelhos deformáveis CILAS. Utilizam terminais de retransmissão de comunicações a laser TesatSpacecom para transferir dados através da rede EDRS, permitindo um tempo de acesso quase real às imagens.
O satélite NORSAT-3 foi contratado pelo Norsk Romsenter com a UTIAS (University of Toronto, Institute for Aerospace Studies) em Janeiro de 2018. O satélite foi desenvolvido pelo Space Flight Laboratory (SFL). O satélite transporta um detector de radar experimental para aumentar as capacidades de detecção de embarcações a partir do seu receptor Automatic Identification System (AIS). Ao se combinar o detector de radar com o receptor AIS, ser-se-á capaz de fornecer um serviço de detecção muito mais eficaz para a Administração Costeira Norueguesa, para as Forças Armadas e outras autoridades marítimas.
O satélite ELO Alpha (Eutelsat LEO for Objects) foi desenvolvido pela Tyvak International SRL, uma subsidiária da Terran Orbital Corporation, sendo um CubeSat-6U construído como um protótipo para a constelação Internet of Things (IoT) da Eutelsat. O satélite é também designado Tyvak 182A. O satélite será utilizado para determinar a performance dos satélites em órbita terrestre baixa no fornecimento de conectividade de banda estreita. O operador do satélite irá utilizar a tecnologia Sigfox, que gere uma rede global de banda estreita dedicada à IoT.
O pequeno All-Bravo é um CubeSat-6U construído pela NanoAvionics para testar e avaliar uma carga útil de observação espectral desenvolvida pela Aurora Insight. A carga útil é um projeto novo de natureza experimental cujo objetivo principal da missão é a de qualificar a carga útil que é consiste por um espectrómetro e outros componentes proprietários, além de demonstrar a gestão de medições relevantes do ambiente espectral.
Os satélites Lemur-2 são baseados no modelo CubeSat-3U. Os satélites constituem a constelação inicial em órbita terrestre baixa construídos pela Spire, transportando duas cargas para meteorologia e seguimento do tráfego marítimo.
A longa marcha da China na exploração espacial deu um passo de gigante com a colocação em órbita do módulo Tianhe, o primeiro elemento da sua estação espacial modular Tiangong.
O lançamento do Tianhe teve lugar no dia 29 de Abril e foi levado a cabo por um foguetão Chang Zheng-5B a partir de Wenchang, província de Hainan.
O módulo Tianhe tem uma massa de 20.500 kg, orbitando a Terra a uma altitude média de 393 km com uma inclinação orbital de 42.º e irá servir de núcleo da estação espacial Tiangong. O Tianhe está dividido em duas grandes secções cilíndricas, a maior com um diâmetro de 4,2 metros. O seu comprimento total é de 16,6 metros e o seu volume habitável é de cerca de 50 m3. O módulo nuclear da Tiangong é ainda composto por uma cabo de recursos, uma secção de acoplagem e uma secção cilíndrica com um diâmetro de 2,8 metros com cinco pontos de acoplagem que irão permitir a junção de novos módulos experimentais. Pode albergar três tripulantes e o seu tempo de vida útil é de 15 anos com manutenção orbital.
O Tianhe está equipado com os sistemas de suporte de vida para os seus tripulantes, bem como com pequenos módulos para a realização de experiências, equipamento de comando e orientação, equipamento para exercício físico e instalações sanitárias. O Tianhe tem uma capacidade de armazenamento de 8.000 kg de propelente para a realização de manobras orbitais.
Aquele que marcou o 400.º lançamento orbital da China encerrou o mês de Abril em termos de lançamentos orbitais. Este, ocorreu a 30 de Abril com um foguetão Chang Zheng-4C a ser lançado desde Jiuquan para colocar em órbita o satélite Yaogan-34.
Segundo a imprensa chinesa, o novo veículo é um satélite óptico de detecção remota que será principalmente utilizado para a observação territorial, planeamento urbano, confirmação dos direitos sobre as terras, projecção de vias de comunicação, estimativa de colheitas, prevenção e mitigação de desastres, e outros campos de utilização.”
O Yaogan-34 poderá ser o mais recente satélite da série Jianbing-9, sendo o 6.º satélite de observação electro-óptica equipado com um sistema de observação de grande angular e de alta-resolução. Este tipo de satélites opera em órbitas sincronizadas com o Sol a uma altitude média de 1.200 km. Os satélites são construídos pela Academia de Tecnologia Espacial de Xangai.
Rui Barbosa
Nascido em Maio de 1971 e licenciado em Física Aplicada, desde cedo Rui Barbosa se interessou pela temática espacial. A 3 de Maio de 2001 inicia o Boletim Em Órbita dedicado à Astronáutica e Conquista do Espaço, o qual comemora o seu 20º aniversário. Actualmente, Rui Barbosa partilha a sua paixão pela Conquista do Espaço com as actividades de montanha.
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