Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/25

Opinião

E depois do Adeus

Nuno Catita

Depois das eleições, a maioria dos partidos envolvidos ainda fazem contas aos resultados, e quase todos eles querem saber quem são, o que fazem ali, quem os abandonou e de quem se esqueceram.

Pelo lado da CDU, o secretário-geral Jerónimo de Sousa vai escondendo a queda do partido à sombra de um Partido Socialista que acusa de tudo ter feito e engendrado para provocar o chumbo do orçamento e forçar as eleições antecipadas. Além de perder deputados perdeu também lugar na Assembleia da República João Oliveira, uma das figuras mais promissoras para o substituir.

Pelo lado do Bloco de Esquerda os grandes e coloridos olhos de Catarina Martins já não são suficientes para hipnotizar os seus seguidores e militantes. Foi uma grande hecatombe para o BE que ficou reduzido a 5 deputados, bastando para os transportar um Táxi de 7 lugares.

No que respeita ao PAN, estalou o verniz dentro do partido. Inês Sousa Real foi fortemente atacada pelo anterior líder do partido, André Silva. A cada soco de um lado respondem com um contragolpe do outro e, não existindo pão, pouco lugar haverá para a razão. Resta à única deputada do PAN aproveitar o Táxi do BE, que tem dois lugares disponíveis.

O Livre libertou-se do estigma da anterior eleita Joacine Katar Moreira e elegeu Rui Tavares, que tem agora duas hipóteses. ou aproveita a boleia no Táxi do BE ou, tendo em conta o número de assessores que nomeou como vereador sem pelouro na Câmara Municipal de Lisboa, contrata um Táxi só para si e para os seus.

O CDS ficou limitado a explicar ao BE como chamar um táxi  e utilizar o recibo para o IRS. Pela primeira vez desde a sua fundação deixou de estar representado na Assembleia da República. O jovem teimoso líder deixou de o ser, tanto líder como teimoso e apresentou a sua demissão. Nuno Melo que espreitava numa esquina desde Bruxelas já se chegou à frente. A primeira opção de uma nova direção deverá passar por pedir ao Partido Socialista que devolva o retrato de Freitas do Amaral.

A Iniciativa Liberal prometeu e cumpriu. Ultrapassou o BE e a CDU, captou grande parte dos eleitores do CDS e foi buscar eleitores à direita do PSD. Está confortavelmente instalado na AR com 8 deputados.

O CHEGA cumpriu as metas a que se propôs, tornou-se a 3ª força política na “casa da democracia” com 12 deputados. Tática que vence não se muda e André Ventura mantém o seu trajeto e não vai desistir do caminho que definiu para o seu partido. Ainda não tomaram posse e, com a proposta para vice-presidente da AR de Diogo Pacheco Amorim, já estão a conseguir atingir o melhor que sabem fazer, espalhar confusão, esticar a corda e criar todas as condições para a vitimização através de um esperado e desejado chumbo por parte dos restantes partidos.

Já o PSD foi o grande derrotado nestas eleições. Um candidato a primeiro-ministro diferente da maioria dos políticos que a história nos tem dado a conhecer. Partiu com a promessa de um banho de ética e levou um banho de um tipo de político que o povo sempre criticou e que mais gosta de eleger.  Vão ser mais de quatro anos com pouco ou nenhum poder parlamentar perante a maioria absoluta do governo eleito. Há que aproveitar para se reorganizar.

Finalmente, o Partido Socialista. Atingiu a sua segunda maioria absoluta. Cilindrou o adversário, destruiu toda a esquerda na qual se apoiou nos últimos seis anos e tem nas mãos um poder que apenas o presidente da república pode amenizar, porque se optar por contrariar a sério será um ato de suicídio. Sendo o primeiro-ministro um homem de talentos, é séria a minha curiosidade sobre a forma como vai abafar os sindicatos, as greves e manifestações que se adivinham.

A escolha dos portugueses foi esta. Agora é esperar. Nem que seja a ouvir Paulo de Carvalho a cantar a mítica canção “E depois do Adeus”.

     Nuno Catita

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