Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/20

Alcobaça

Isabel Stilwell: Inês de Castro foi enviada pela família galega para seduzir o infante D. Pedro

Isabel Stilwell

A escritora Isabel Stilwell apresentou, no dia 12 de fevereiro, na Biblioteca Municipal de Alcobaça o seu romance “Inês de Castro”, a amante do príncipe D. Pedro, que segundo a lenda, foi coroada rainha depois de morta. Com vasta experiência em livros históricos, Isabel Stilwell revelou ser comum na época medieval as famílias nobres enviarem as suas filhas mais bonitas e inteligentes para seduzirem e influenciarem os príncipes. A sessão contou com sala cheia e a participação da vereadora da Cultura, Inês Silva, e de Jorge Pereira de Sampaio, historiador e ex-diretor do Mosteiro de Alcobaça.

Inês era oriunda de duas famílias galegas, os Castro e os Albuquerque. Sua meia-irmã desposou o rei D. Pedro I, de Castela, em segundas núpcias, mas este repudiou-a na própria noite de núpcias, o que provocou a revolta dos irmãos, Fernando e Álvaro de Castro, que procuraram apoio político e militar em Portugal para deporem o rei castelhano. Segundo a escritora, Inês de Castro era ambiciosa e seria ela o isco para cativar o futuro Rei de Portugal, D. Pedro.

Quando ao príncipe e futuro Rei D. Pedro I, segundo Isabel Stilwell, “há um Pedro bom e um Pedro mau”: o primeiro é sensível e justo, o segundo é cobarde e cruel. Dos cinco filhos varões do rei D. Pedro IV, foi o único que sobreviveu e, por isso, foi o único candidato ao trono, após a morte do pai.

Jorge Pereira de Sampaio, Isabel Stilwell e Inês Silva

O romance de Pedro e Inês, em Coimbra, terá sido escondido do rei, que já enviara Inês para Albuquerque, do outro lado da fronteira espanhola, por ser persona non grata no reino de Portugal. Após a morte de Constança, a legítima esposa de D. Pedro, este faz Inês regressar secretamente e vive o seu amor no Paço da Rainha Santa, junto ao Convento de Santa Clara, onde nascem os seus 4 filhos, com o inevitável conhecimento e escândalo da população da cidade de Coimbra. Como tal, foi uma questão de tempo até a informação do amor secreto de Pedro e Inês chegar aos ouvidos do Rei.

Isabel Stilwell defende que a ira do rei se deve também ao facto dos filhos bastardos de Pedro poderem afrontar o direito legítimo do infante D. Fernando, filho de Constança Manuel, em aceder ao trono de Portugal. D. Afonso IV ficara traumatizado por ele próprio ter sido ostracizado pelo seu pai, D. Dinis, em detrimento de um filho bastardo D. Afonso Sanches. Essa relação provocou o violento desagrado do legítimo herdeiro do trono, resultando numa guerra civil (1319-1324) entre pai e filho. O climax deste conflito foi a batalha de Alvalade, que acabou por nunca ocorrer por intervenção da rainha D. Beatriz. Com a subida ao trono de Afonso IV de Portugal, o novo rei exilou o meio-irmão em Castela, mas a experiência traumática permaneceu para sempre no seu espírito.

A escritora considera natural D. Pedro ter sido sepultado no Mosteiro de Alcobaça, dada a grande amizade que nutria pelo Abade de Alcobaça ao contrário de sei pai, que mantinha um longo contencioso com D. Vicente Geraldes. Por isso, a opção natural de D. Afonso IV foi ser sepultado na Sé de Lisboa.

Isabel Stilwell confessou que demorou dois anos a escrever este livro, em pleno confinamento devido à pandemia de COVID-19. Prefere a tarde ou a noite para escrever, quando se sente mais criativa, reservando as manhãs para as tarefas práticas do dia a dia.

Público presente na Biblioteca Municipal de Alcobaça

Por sua vez, a vereadora Inês Silva destacou a dificuldade que Pedro enfrentou na sua época devido a padecer de gaguez, numa época em que a linguagem escrita era residual e quase tudo era transmitido oralmente.

Já Jorge Pereira de Sampaio, historiador e ex-diretor do Mosteiro de Alcobaça, evocou a memória de Maria Leonor Machado de Sousa, uma das maiores especialistas na temática inesiana, admitindo que a académica recentemente falecida teria gostado muito de ler este romance, baseando a sua convicção no espírito de tolerância da Professora da Universidade de Coimbra, que apadrinhou mesmo em tempos uma exposição de Barbies no Mosteiro de Alcobaça, inspirada no mito de Inês de Castro.

      Mário Lopes

 

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