Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/25

Técnica superior da DGPC e membro da Comissão Nacional do PS

Ana Martinho pede demissão do Secretariado de Alcobaça do PS em rota de colisão com Rui Alexandre

Cândido Ferreira, Rui Alexandre e Ana Martinho na apresentação da lista vencedora das últimas eleições para a Concelhia do PS de Alcobaça

Ana Margarida Martinho, membro do Secretariado da Concelhia de Alcobaça do Partido Socialista apresentou, no dia 25 de março, a sua demissão deste órgão ao presidente da Concelhia de Alcobaça do Partido Socialista, Rui Alexandre, em desacordo com a intenção deste de não aceitar a nomeação de Carlos Guerra, atual comandante do CDOS de Leiria para cabeça de lista do PS à Câmara Municipal de Alcobaça. Recorde-se que a eleição teve lugar por voto secreto, no dia 12 de março, numa reunião convocada para o efeito com a presença de todos os elementos da Comissão Política Concelhia.

“Ao longo de um ano pôde o projeto por si liderado contar com a minha colaboração no Secretariado. A minha conduta foi sempre regulada por premissas de racionalidade estratégica, de propósito comum, invocando a coesão do partido, com os olhos postos no futuro. Em total lealdade para com a minha consciência, com clareza e interação, com todos, contestei sempre a opacidade nos procedimentos, defendendo, como não poderia deixar de ser, um caminho de novidade, de engajamento interno, gregário, credível, de rigor nos princípios e nos valores, sem casuísmos e aventureirismos”, escreve a militante socialista, historiadora, técnica superior da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e membro da Comissão Nacional do Partido Socialista.

Na sua carta de demissão, Ana Martinho defende que é preciso “em primeiro arrumar a casa”, isto é, o partido em Alcobaça, para depois se pensar nas conquistas políticas, porque dificilmente se parte para um desafio de natureza eleitoral em condições de fragilidade interna e de estrutura ausente. As divergências, mais ou menos profundas, foram sempre manifestadas nos órgãos próprios, de forma reservada, é certo, mas com transparência e sem subterfúgios. Fi-lo sempre com sinceridade, paixão e contributos imensos. Nunca virei a cara ao projeto por si liderado, sobretudo porque acreditava, como acredito, na enorme virtude que constitui a discussão interna, quer de ideias, quer de conceitos, ou de propósitos. Considerava eu que era a democracia a funcionar em pleno ao serviço de uma causa política e de um projeto autárquico para o concelho de Alcobaça.”

Por outro lado, reconhece que “o Secretariado enfrentou enormes dificuldades relacionadas com a forma como o partido foi gerido internamente num passado não muito distante, para não referir o facto de todos nós estarmos a viver uma pandemia que dificulta o contacto mais constante e a comunicação mais eficaz.” Porém, “também reconheço – e disse-o por várias vezes – que o clima de difícil de articulação com os militantes poderia ser ultrapassado se existisse mais vontade e ensejo na concretização do diálogo, particularmente através de uma linha comunicacional interna mais proactiva e de maior proximidade. A “contagem de espingardas” teria de ser feita com todos os militantes e não somente com alguns”, defende.

Relativamente à liderança da Comissão Política Concelhia, “sempre afirmei que o PS Alcobaça necessitava de uma liderança forte, com chispa, genuinamente interessada em comprar a paz e não a guerra, especialmente num momento em que o efeito novidade deveria estar claramente no PS. Era necessário afirmar uma nova orientação política em tudo diferente ao que o passado nos habituou. Surpreendeu-me por isso a atitude de um candidato a candidato que é contra a normal contenda (civilizada) emergente da discussão interna, esquecendo-se de tudo aquilo que moveu a sua chegada aos órgãos concelhios do partido, a que acresce o facto de querer subtrair o papel dos militantes na escolha dos candidatos autárquicos.”

Nomeadamente, alega Ana Martinho, “surpreendeu-me um inusitado e absurdo comunicado cuja intenção é claramente querer dividir (ainda mais) para tentar reinar discricionária e antidemocraticamente, fazendo “tabula rasa” das decisões recentemente tomadas pelos órgãos, fragilizando deliberadamente o partido junto da opinião pública.”

Segundo a história militante do PS de Alcobaça, “o partido só será verdadeiramente útil à sociedade se não se dividir em grupos, grupinhos e turbas mais ou menos organizadas em redor de um tirocinante de caudilho local. O PS não é pouso de caciquismos, amiguismos e outros ismos, os tais que fermentam o crescimento de movimentos e de partidos verdadeiramente antidemocráticos, e os mesmos que colocam em perigo todas as coisas virtuosas da democracia liberal que herdámos coletivamente e nos devemos empenhar em manter.”

Assim, “em face das atitudes de cabo-de-guerra ultimamente tomadas – e porque repudio veementemente o teor do suprarreferido comunicado, o qual foi redigido à revelia da esmagadora maioria do órgão –, é-me impossível continuar no Secretariado, pelo que venho apresentar formalmente a demissão do órgão.”

Contudo, prossegue, “entendo que o partido institucionalizado (órgãos concelhios e militantes do PS Alcobaça) tem razões mais do que suficientes para se preocupar com o que se está a passar no seu seio. O PS Alcobaça tem que ser um partido útil à democracia autárquica, sempre presente e só o será se conseguir inverter a tendência de luta fratricida que nos últimos anos, consistentemente, o vai marcando.”

Segundo Ana Martinho, “é fundamental que o partido adquira a relevância local que é indispensável para se chegar junto das pessoas, antes, durante e após os atos eleitorais. Por fim, mas não por último, informo-o de que irei manter-me na Concelhia. Faço-o justamente no sentido de perseguir o objetivo da pacificação interna no seio do PS em Alcobaça; um partido sem donos, sem atitudes autofágicas, desprovido de interesses e promessas de carreirismo, verdadeiramente focado no desenvolvimento das melhores políticas sociais, culturais e económicas para o nosso concelho.”

 

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