Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/18

Opinião

A nova EN1

Nuno Catita

Viver ou trabalhar do outro lado da Estrada Nacional nº 1 na zona da Benedita foi sempre um desafio, um perigoso desafio. Cruzar a estrada ou parar no eixo da via era pior que jogar na roleta russa. Os moradores da zona, além de correrem perigo todos os dias, entravam em sobressalto vezes sem conta, com o som das travagens, do ferro a retorcer, do estilhaçar dos vidros e dos agonizantes gritos de dor e desespero, só abafados pelas sirenes dos bombeiros.

As várias ações de protesto pela falta de segurança que foram sendo feitas acabaram por obrigar as autoridades a construírem uma passagem aérea. As pessoas rejubilaram-se pelo sucesso da ação popular. Acreditou-se que a medida solucionaria grande parte das dificuldades do troço. Mas, o facto de “ser já ali” continuou a motivar os automobilistas a viragens de risco. A inconsciência o comodismo levam, por vezes, ao facilitismo de optar pelo acesso de maior insegurança,  evitando  percorrer mais alguns metros.

Com o passar dos anos e a total falta de manutenção desta via, a necessidade de uma intervenção de fundo era mais do que uma necessidade. Era, pois, uma exigência que originou vários protestos e marchas lentas, organizadas pelos utilizadores.

As necessárias obras de requalificação do IC2, entre a Benedita e a Asseiceira, estão em fase de conclusão na zona da Benedita.  Piso novo, rotundas nos principais cruzamentos e duplo risco contínuo. Os maiores perigos desta estrada estão resolvidos. Não se pode ultrapassar, nem atravessar a estrada, e não é permitido parar no eixo da via.

Mas surge o desencanto.

Não poder virar à esquerda obriga a ir até às rotundas. Andar mais umas centenas de metros e demorar mais uns minutos passa a ser alvo de contestação. O custo da segurança pesa, agora, em parte dos que protestaram pela sua ausência. Os atropelos à sinalização já se vão notando. Há zonas em que o duplo traço já está meio sumido pela frequência com que viram nesses locais.

A segurança está lá. Estrada renovada, com pavimento de aparente qualidade. Vai custar muito menos aprender a circular que dantes, mas vai custar muito mais perder os velhos hábitos do facilitismo de ir apenas “dali para ali”.

O desafio é reeducarmo-nos, cada um de nós, utilizadores desta via. É demonstrar, pela atitude, que tínhamos razão quando exigimos a requalificação e o aumento da segurança. É respeitar a memória de tantos que ali perderam a vida por falta de condições numa estrada que, até 1991, era a principal ligação entre Lisboa e Porto.

Todos os dias se contestam as estradas sem condições, as bermas cheias de ervas, a sinalização em mau estado ou inexistente. Não se conteste agora o que mais se tem reivindicado, a maior segurança possível para todos.

Desobedecer deliberadamente às regras que agora vigoram não só é uma total falta de consciência, como é uma contraordenação muito grave e, no caso mais grave, em consequência de um acidente, pode ser considerado homicídio.

     Nuno Catita

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