Edição: 289

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/12/3

Estudo do MARE-ISPA deteta mecanismos de adaptação da sardinha às alterações climáticas

Riscos que a sardinha enfrenta

Investigação do projeto SardiTemp, liderado pelo MARE-ISPA, demonstra que a sardinha ibérica tem potenciais vantagens na adaptação às alterações climáticas, mas ainda assim a subida da temperatura do mar pode levar a uma migração desta espécie para norte.

“Devido ao aumento da temperatura da água, o que se espera é que as sardinhas acelerem o metabolismo e consequentemente o consumo de oxigénio. Decidimos analisar o DNA de genes envolvidos na produção de energia para ver se encontrávamos alguma ligação”, explica Miguel Baltazar-Soares, autor principal do artigo publicado na revista Genes no início deste mês. “Descobrimos que a variação a nível molecular encontrada entre amostras analisadas à volta da Península Ibérica é explicada por uma relação com a temperatura mínima da água do mar e do oxigénio dissolvido na mesma”, conclui.

Isto abre a possibilidade de um mecanismo de adaptação, mas isso pode não ser suficiente para manter a sardinha ibérica em áreas de pesca no nosso território. Gonçalo Silva, líder do projeto SardiTemp, diz que “esta adaptação poderá estar relacionada com eventos de afloramento, frequentes na costa portuguesa.”

Baltazar-Soares sublinha que “é importante percebermos o potencial adaptativo da sardinha de modo a fazer face às alterações climáticas. Os seus stocks têm sido explorados intensivamente nas últimas décadas e, mais recentemente, têm estado abaixo do limite sustentável de captura.”

Gonçalo Silva conclui com uma nota otimista: “Têm sido encontradas assinaturas moleculares de diversas adaptações noutras espécies de pequenos peixes pelágicos (que vivem na coluna de água, como a sardinha): temos o caso do biqueirão, do arenque ou até mesmo em sardinhas de outras espécies, noutras latitudes. Ao compreendermos melhor os mecanismos de adaptação às alterações climáticas conseguimos estar mais perto de prever os impactos que estas terão na distribuição dos recursos marinhos, e assim, contribuirmos para uma melhor gestão desses mesmos recursos”.

Estima-se que o aumento global da temperatura média da água do mar previsto até ao final do século tenha múltiplos impactos na biodiversidade, dinâmica e distribuição dos diferentes recursos marinhos, e por consequência na economia e sobrevivência das populações costeiras – que é justamente o caso da sardinha ibérica.

Este artigo é o primeiro artigo realizado no âmbito do projecto SardiTemp, financiado pela FCT e por fundos FEDER (Refª PTDC/BIA-BMA/32209/2017), que tem como objectivo estimar o impacto das alterações climáticas na biologia e ecologia de pequenos peixes pelágicos. A equipa de investigação do MARE-ISPA, em colaboração com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera e outros institutos portugueses, está a desenvolver estudos de metabolismo, fisiologia e comportamento com sardinhas adultas em ambiente controlado, mas os resultados ainda estão a ser analisados. Para mais informações: www.sarditemp.com

Sobre o ISPA – Instituto Universitário

O ISPA iniciou a sua atividade em 1962 como Instituto de Ciências Psicológicas. Como primeira escola de Psicologia em Portugal, adotou em 1964 a designação de Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) Passou em 2009 a ISPA – Instituto Universitário, alargando a sua oferta formativa e de investigação a áreas como a Educação, Biologia, Neurociências e Bioinformática. Esta nova realidade traduz a excelência do seu projeto pedagógico e científico, alicerçado na qualificação e prestígio do seu corpo docente e nas classificações atribuídas, por entidades independentes.

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    Fonte: LPM

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