Edição: 288

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/11/21

Opinião

As Autárquicas mataram o Orçamento

Querem ver que afinal as autárquicas não foram uma vitória para todos os partidos envolvidos?! O toque a reunir aconteceu em vários partidos e estes aceleraram análises já efetuadas, mas que precisavam daquele empurrãozinho que sempre acontece quando o eleitor é chamado a votar.

O PS não perdeu as eleições, mas perdeu Lisboa e isso é sempre simbólico, principalmente porque foi inesperado para a maioria. Foi uma clara derrota por desgaste, pelas trapalhadas consecutivas e pela necessidade de mudança. O PSD fragilizado fez da vitória de Moedas o balão de oxigénio que Rio precisava para um último fôlego e, com Rangel à espreita, chega, da pior forma possível, a um momento que deveria ser de vitória cantada.

É incrível como o PSD demorou a contestar a liderança de Rio e consegue acertar num momento em que o país quase irremediavelmente terá de ir para eleições antecipadas. A não oposição de Rio e a permanente expetativa de que a alternância iria inevitavelmente acontecer são sinais da debilidade absoluta do estado político do centro em Portugal e uma das razões pelas quais o PS não desce nas sondagens.

Outra das razões é o naturalmente esvaziamento do BE e PCP à custa da ação governativa. Esvaziados do capital de queixa radical, coladinhos que estão ao modelo governativo em vigor, são hoje muletas do poder. É a demonstração de que a geringonça foi mera tática anti qualquer coisa. Hoje procuram desesperadamente demarcar-se daquilo que apregoaram desde então. Não espanta ninguém, mas se nós eleitores não fossemos tão desmemoriados dificilmente alguma vez teriam um bom resultado eleitoral!

Se estivéssemos atentos aos sinais teríamos percebido que este resultado seria mais ou menos esperado, senão vejamos:

– Se Costa tivesse privilegiado a estabilidade teria feito um acordo escrito para segunda legislatura. Não o fez porque quis ter o trunfo de ele próprio poder criar uma crise política, se a conjuntura fosse favorável, que o levasse a eleições antecipadas. Mas o desgaste político vai destruindo a narrativa ilusória que vendeu ao país;

– O BE ao votar contra o orçamento passado mostrou que não é fiável e que é um partido que quer estar sempre do lado fácil da história. Cada vez mais “moralista” e cada vez menos parte da solução.

– O PCP pagou a sua infidelidade à ortodoxia com a perda de um eleitorado crítico e contestatário que hoje se movimenta para extremos opostos. Para além disso, era impossível ao PCP aguentar os seus revolucionários em sindicatos açaimados.

Nas últimas semanas Bloco e PCP andaram a fazer poker face, entre eles e ao Governo, tentando obter apenas uma coisa… que um deles, que não o próprio, aprovasse o orçamento. O orçamento que mais se identifica com ambos os partidos foi afinal o que decidiram chumbar! E fizeram-no permitindo ao PS aquilo que sempre faz bem… desculpabilizar-se e chutar responsabilidades para os outros. De facto, Portugal não aprende!

Cotrim Figueiredo disse: A geringonça morreu. Paz à sua Alma. Costa é o sobrevivente que circula desde as catacumbas aos salões do poder, que cede o que o país não pode dar para o poder assegurar, que envolve aqueles que não resolve. Neste momento, a cúpula do PS está entre think tanks, focus groups disto e daquilo, a desenhar uma estratégia que permita, não aquilo que o país necessita, mas mais um esquema que permita ao PS continuar no poder.

Como liberal que sou prefiro não ter um péssimo orçamento e devolver à democracia a escolha do que queremos para o futuro. Preocupa-me que, mais uma vez, a solução emergente que preconizo, que passa por um novo modelo de desenvolvimento, ainda não esteja madura o suficiente para vencer a resistência conservadora em mudar do eleitor português. Esse é o desafio da Iniciativa Liberal. Combater esta resignação endémica e libertar os portugueses desta cultura enraizada de empobrecimento e submissão.

Se olharmos para tudo isto a partir de Alcobaça, não deixa de ser curioso que nas últimas eleições autárquicas só tivemos a visita de um líder de um partido que se espera que cresça significativamente nas próximas eleições. E esse líder foi o da Iniciativa Liberal que esteve connosco na Benedita.

Já o PSD Alcobaça trouxe o aspirante a líder Paulo Rangel, quando foi Rui Rio a permitir ao atual Presidente da Câmara ser candidato e ao permitir isso violou uma das suas linhas vermelhas quanto aos requisitos dos candidatos a escolher! De facto, a política nem sempre é muito recomendável!

Será esta ausência de uns e a presença de outros, um sinal da irrelevância política de Alcobaça? A ausência de ideias e protagonistas nos partidos do sistema fizeram do concelho algo não muito distante da realidade do país. Para o país, existindo eleições antecipadas, há uma hipótese de mudança. Já por cá… até daqui a 4 anos.

     Miguel Silvestre

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