Psiquiatras denunciam exaustão dos trabalhadores
Médicos alertam para risco psicossocial na Urgência do Centro Hospitalar de Leiria
2023-01-10 14:08:36
Um grupo de oito médicos do serviço de psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria esta terça-feira, dia 10 de janeiro, alertou para o que consideram ser “momentos degradantes que se vivem no Centro Hospitalar de Leiria”, pelo que decidiu tornar público, nomeadamente, “o descalabro e o risco humano em que se encontra a instituição, para bem de todos os que a frequentam, tanto doentes como trabalhadores”, devido à recorrente falta de recursos humanos.
A situação já não é nova e foi dada a conhecer em carta dirigida, no dia 30 de novembro, ao presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Leiria, Licínio de Carvalho, ao diretor do Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho do Centro Hospitalar de Leiria, Pedro Faria, e à diretora do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar de Leiria, Maria João Canotilho.
Os clínicos alertam que “face aos crescentes pedidos de ajuda, e como Serviço responsável pela Psiquiatria e Saúde Mental deste Hospital, não podemos ficar indiferentes e deixar de alertar vossas excelências para a situação de enorme risco psicossocial em que se encontram os trabalhadores de todas as classes profissionais (inclusive nós) que, no presente, desenvolvem a sua atividade diária no Serviço de Urgência do Cento Hospitalar de Leiria (CHL).”
Os médicos reconhecem que “o drama que, hoje em dia, se vive nas urgências não é exclusivo do CHL”, e que “quem cá trabalha há muitos anos tem noção que sempre foi complicado trabalhar neste serviço. Sempre se lidou com uma falta crónica de recursos para a população da nossa área de referenciação, mas a situação foi sendo sempre controlada, graças à resiliência e ao espírito de equipa que vigorava no Serviço de Urgência.”
Contudo, “nos últimos meses, com a reorganização interna do Serviço de Urgência, a situação agudizou-se, trabalhando-se com a sensação de amargura constante de não se conseguir identificar e tratar atempadamente quem vem ao autoproclamado “Hospital das Pessoas” e se encontra, literalmente “perdida”, entre outras, na antiga Área Amarela. Mal se entra na Urgência, percebe-se logo uma sensação de tensão emocional em crescendo com as pessoas a trabalharem em modo de sobrevivência, continuamente em alerta, com o receio de que alguém morra por falta de assistência”, alertam.
Segundo os médicos, “este stress laboral é constante, desgastante e patológico. As pessoas começam a perder a sua funcionalidade, a capacidade e o controlo para lidar/gerir esta problemática, fruto de um cansaço extremo e da falta de perspetivas/soluções em relação ao futuro, o que poderá culminar em situações de potencial tisco para a integridade física dos próprios ou de terceiros.”
Mais uma vez, reiteram o alerta ao poder executivo. “É importante minimizar os fatores internos dependentes da instituição, que estão a contribuir para este estado de entropia do Serviço de Urgência e a potenciar o enorme risco psicossocial a que se encontram sujeitos todos aqueles que lá desempenham funções, diariamente”, concluem.
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