Edição: 288

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/11/23

Protocolo foi apresentado no Museu Nacional de Etnologia

Ministério da Cultura e Câmara de Leiria criam Programa de Interpretação do Vale do Lapedo

Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho

Foi apresentado esta quinta-feira, dia 14 de dezembro, em Lisboa, o Programa de Interpretação e Comunicação do Vale do Lapedo, numa dupla sessão no Museu Nacional de Arqueologia e no Museu Nacional de Etnologia, em que foi promovida uma sessão inédita de observação do esqueleto da Criança do Lapedo.

Na cerimónia, o presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, afirmou-se empenhado em contribuir para que Vale do Lapedo ocupe o relevante espaço que lhe é devido no seio da paleoantropologia internacional, anunciando que foram efetuadas duas escrituras e aquisição de terrenos naquele espaço com uma área superior a 40 mil metros quadrados.

“No Município de Leiria entendemos que o nosso património não deve ser mantido numa redoma, num conceito de usufruto cristalizado, mas deve antes ser encarado como âncora do nosso desenvolvimento, em absoluto respeito pela sua história e valor científico”, disse.

“Assumimos a missão de preservar e de promover este achado, e muito em especial a divulgação das leituras que nos são oferecidas pela comunidade científica deste pedaço de chão ‘sagrado’ que é o Abrigo do Lagar Velho”, acrescentou.

A secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, referiu que está em curso um estudo, pelo LNEC, sobre a estabilidade do Abrigo do Lagar Velho, com vista à realização de uma intervenção de conservação e restauro no local.

Um dos destaques da sessão foi a apresentação do Programa de Interpretação e Comunicação do Vale do Lapedo – “Criança do Lapedo – Uma Proposta de Viagem”, elaborado pelo Grupo de Projeto estabelecido pelo protocolo celebrado entre o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal de Leiria.

O livro, de Gonçalo Cadilhe, apresenta diversas propostas, nomeadamente a criação de um museu da Criança do Lapedo, com exposição do esqueleto e dos artefactos da sua sepultura, uma candidatura, que considera revolucionária, a Património da Humanidade, um novo centro de interpretação e a transformação do Vale do Lapedo num lugar espiritual, com uma Rota assente num percurso pedestre informado, discreto e não invasivo.

Refira-se que este sábado, às 16 horas, decorre, no Museu de Leiria, a apresentação do Programa de Interpretação e Comunicação do Vale do Lapedo.

Além desta iniciativa, o programa comemorativo dos 25 anos da descoberta da Criança do Lapedo integra uma residência artística de Michael Jones McKean sobre o Abrigo do Lagar Velho e a Criança do Lapedo, no âmbito do projeto internacional Twelve Earths, visitável em www.twelveearths.com.

As comemoraçóes prosseguem em 2024. No dia 1 de julho, pelas 15h30, no Museu de Leiria e na Avenida Heróis de Angola será inaugurada a exposição “Ossos do nosso ofício, animais da nossa história. O Lagar Velho contado pelos seus bichos.” Ainda neste dia, às 17h00, será realizada uma conversa sobre as paisagens pré-históricas do Vale do Lapedo, com a presença da equipa de investigação do Abrigo do Lagar Velho.

A 24 de novembro, Dia Nacional da Cultura Científica, decorrerá uma mesa-redonda sobre comunicação e divulgação de ciência, em torno do “O Abrigo do Lagar Velho e a Criança do Lapedo”. A 7 de dezembro será realizada uma última conferência no Museu de Leiria, sobre a “Pré-história Antiga na Região de Leiria”.

No dia 15 de novembro (Aniversário do Museu de Leiria), às 10h, será apresentado o livro “A Criança do Lapedo” em Língua Gestual Portuguesa.

A 28 de novembro de 2024, às 10h00, será apresentado um novo livro sobre a temática, em versão multiformato (que inclui linguagem pictográfica, texto aumentado, braille e um QR Code que remete para a versões em Língua Gestual Portuguesa e AudioLivro). Ambas as apresentações decorrerão no Museu de Leiria.

Enquadramento do Sítio Arqueológico

O Vale do Lapedo, situado em Santa Eufémia, a cerca de 10 quilómetros de Leiria, é um local de grande interesse natural e cultural, localizado numa região predominantemente rural.

O Abrigo do Lagar Velho situa-se no Vale do Lapedo, um vale cársico encaixado, com uma paisagem fortemente marcada pela presença de abrigos sob rocha, de grutas, e de encostas muito íngremes e paredes rochosas verticais. O vale evidencia-se pelas magníficas características naturais, destacando-se a sua forma em “canhão” que rasga o maciço calcário, um dos maiores e mais interessantes de Portugal, erodido ao longo de centenas de milhares de anos pela ribeira do Sirol.

Neste vale foi instalado o Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho, inaugurado em janeiro de 2008, que dá a conhecer aos visitantes os resultados da investigação realizada no sítio arqueológico do Abrigo do Lagar Velho e a sua contextualização na história da evolução humana.

As características naturais desta área facilitaram a preservação da paisagem, pouco humanizada, até aos nossos dias. No interior do estreito vale, com cerca 1,5 quilómetros de extensão, existem construções associadas a antigas estruturas moageiras – moinhos de cereais e lagares.

As características singulares deste género de formação geomorfológica propiciam a preservação da flora e fauna autóctone. No caso do Lapedo podemos observar alguns exemplares da comunidade biológica peninsular mais antiga – mata mediterrânica, destacando-se algumas espécies típicas como o Carvalho Cerquinho (Quercus faginea) e o Medronheiro (Arbutus unedo).

Em 1993, o Município de Leiria, em colaboração com associações ambientalistas da região, propôs a classificação do Vale do Lapedo pelas suas qualidades ambientais. O Abrigo do Lagar Velho foi classificado como Monumento Nacional em 2013 e, em 2021, o esqueleto da Criança do Lapedo e artefactos arqueológicos associados foram classificados como bens de interesse nacional, com a designação de «tesouro nacional».

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