Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/27

Da autoria de Luís Duarte Melo

Alcanena recebe lançamento do livro “Serranos, Campinos e Bairrões – Etnografia e Falares do Ribatejo”

Capa do livro

O lançamento de “Serranos, Campinos e Bairrões – Etnografia e Falares do Ribatejo terá lugar no dia 18 de junho, domingo, às 14h30, no Jardim da Biblioteca de Alcanena.

A leitura deste livro evidenciará abundantes fundamentos que levaram Luís Duarte Melo a biografar seu bisavô Francisco Serra Frazão, a contextualizar os seus registos de vários Ribatejos em mudança, a transcrever alguns artigos de imprensa e a resgatar do cofre forte de Leite de Vasconcelos manuscritos inéditos redigidos em Santarém entre 1936 e 1940.

Condições materiais, língua, crença, mito e sabedoria ancestral das comunidades da Serra, Lezíria e Bairro ribatejano, são os elementos aqui revelados pela escrita elegante, vivência imersiva e capacidade de observação do autor, a par das suas reflexões, causas, críticas, desilusões, tiradas de humor e paralelismos com outros locais onde a vida o levou (1).

Uma visita ao quotidiano da alma ribatejana, por intermédio da língua portuguesa na boca do povo – um poderoso meio de mundividência e coesão social, que Frazão promove a precioso reduto de vocábulos e modos de dizer, por vezes crus, mas propositados e entendidos por toda a gente, que urgia fixar antes que passassem ao rol dos esquecidos.

Oportunidade para melhor conhecermos um mundo desaparecido, porém marcante para a nossa vida coletiva na atualidade.

(1) Para além de várias localidades do Ribatejo e da Estremadura (Abrã, Alcanede, Alcanena, Alcaria, Alcobaça, Alenquer, Almeirim, Almoster, Alpiarça, Alvados, Batalha, Benavente, Caldas da Rainha, Évora de Alcobaça, Fráguas, Leiria, Lisboa, Nazaré, Porto de Mós, Rio Maior, Salvaterra de Magos, Samora Correia, Santarém, Serra de Santo António, Torres Novas, Turquel, Valada, Vila Nova de Ourém), são recorrentes as referências aos Açores e Angola.

SINOPSE

  1. INTRODUÇÃO

Vida, Pensamento e Obra

Partindo do contexto de origem de Francisco Santos Serra Frazão, nascido em 1881, é traçado o seu percurso de vida na Serra, no Bairro, na Lezíria, Além-mar (Açores e Angola), em Santarém, de novo em Angola, e em Lisboa, onde faleceu em 1948.

Para além da narrativa sobre a sua multifacetada biografia pessoal e profissional, referencia-se a sua atividade como jornalista, publicista e investigador, resultado de pesquisa a fontes primárias em arquivos públicos e privados, ancorada ainda em obras relevantes para efeitos de contextualização, bem como nalgumas fotografias coevas.

Para anexo são remetidos alguns dos textos publicados por Serra Frazão na imprensa em várias fases da sua vida, a benefício do conhecimento de aspetos como o estilo de escrita ou opções ideológicas.

O Cofre de Leite

A enfase deste capítulo é colocada nas motivações de Serra Frazão para persistir no estudo e redação sobre o povo do Ribatejo, nomeadamente a intensa e profícua colaboração que estabeleceu entre 1938 e 1940 com José Leite de Vasconcelos, inicialmente centrada no vocabulário da Serra de Santo António, alargando-se depois a outros campos da Filologia e da Etnografia.

II. MANEIRAS DE DIZER DOS SERRANOS

Trata-se da II Série do Sucinto Vocabulário da Serra de Santo António, trabalho inédito, originalmente redigido em verbetes vocabulares, encabeçados por uma entrada que, ao jeito de dicionário, nos familiarizam com a maneira de falar do povo da Serra de Santo António no início do séc. XX, constituindo, simultaneamente, um registo histórico inesperado da vivência das populações serranas nos mais variados aspetos do quotidiano.

III. APONTAMENTOS SOBRE VOCÁBULOS ANTIGOS

Transcrição da introdução e reflexões em torno de cerca de 140 termos antigos, colhidos num dicionário redigido no séc. XVIII, e que Serra Frazão identificou ainda em uso no Ribatejo.

IV. APONTAMENTOS ETNOGRÁFICOS – TRADIÇÕES POPULARES

Tratam-se de apontamentos etnográficos de grande interesse para os estudiosos da cultura popular do Ribatejo, investigados e redigidos por Serra Frazão, ancorados na leitura de Tradições Populares de Portugal, obra de referência de Leite de Vasconcelos redigida em 1882.

Dado o carater relativamente fragmentário deste trabalho, optei por organizá-lo em capítulos, tendo por referência a estrutura da mencionada obra de Leite de Vasconcelos: Astros, Atmosfera, Água, Terra, Pedras, Lume e Luz, Animais, Aves, Aracnídeos, Insetos e Miriápodes, Cobras e Lagartos, Adágios, Adivinhas, Contos, Jogos, Remédios e Abegoarias.

V. CIÊNCIA POPULAR

Nesta parte, incluímos notas sobre Ciência Popular, explicações dadas pelo povo para alguns factos da natureza à luz de algumas crendices que continuava a respeitar.

VI. RIBATEJO IGNORADO

Este capítulo integra alguns textos de Serra Frazão dedicados à freguesia de Minde.

É encabeçado pela introdução redigida para o Calão Mindrico, que não chegou a integrar a sua conhecida e pioneira coletânea de 300 termos e frases, publicada na Revista Lusitana em 1939, não obstante o seu interesse para os estudiosos de Minde e da sua peculiar piação.

Incluímos ainda alguns textos de Minde na História e na Lenda, publicados no Ribatejo Ilustrado entre 1934 e 1935.

VII. MANEIRAS DE DIZER NA BORDA D´ÁGUA

Trata-se de uma coleção de 55 termos da linguagem popular utilizada na zona da lezíria ribatejana, de ambas as margens do Tejo, com enfâse na vivência e faina da população rural.

VIII. NOMES PRÓPRIOS E MANEIRA COMO OS ALDEÕES DO RIBATEJO OS PRONUNCIAM

Neste trabalho, Serra Frazão lista um conjunto de nomes próprios, a maneira como os aldeões do Ribatejo os pronunciavam, adiantando possíveis critérios e fundamentos para as respetivas adulterações.

IX. COMPARAÇÕES E IMAGENS POPULARES

Este texto é fundamentado pelo autor pela riqueza da linguagem do povo das aldeias do Ribatejo quanto a comparações e semelhanças, algumas delas com tanta graça e originalidade, que não resistiu a registar algumas das mais usualmente pronunciadas, para que o assunto pudesse ser estudado pelos filólogos.

X. CRÓNICAS DA BORDA D´ÁGUA

Trata-se de uma coleção de 31 crónicas sobre a etnografia da região da lezíria ribatejana, publicadas no jornal Primeiro de Janeiro entre 1939 e 1941. É ainda incluída a comunicação que intitulou O homem, a sua fala e a sua morada, apresentada ao II Congresso Ribatejano em 1947.

AUTORIA

Francisco Serra Frazão

Nasceu em 1881 na Serra de Santo António, atual concelho de Alcanena, tendo vivido em várias localidades da Serra, do Bairro e da Lezíria ribatejana, além-mar nos Açores e Angola, mais tarde em Santarém e Lisboa, onde faleceu em 1948. Igualmente heterogéneo foi o seu percurso profissional e cívico: professor, jornalista, publicista, administrador colonial, solicitador, autarca, empresário e investigador. Vivenciou dinâmicas marcantes do tempo, como a aprendizagem em contexto eclesiástico, o abandono do Seminário, o republicanismo, a expansão da imprensa, a disseminação da rede escolar no país, a descentralização administrativa das colónias ou o regime do Estado Novo, de que foi opositor.

Acima de tudo, Serra Frazão foi um fino observador da realidade e um cultivador das letras ao longo de toda a vida, tendo escrito intensamente na imprensa e produzido vasta obra literária, particularmente sobre temas sociais, monografia regional, etnografia e filologia, da qual só uma parte foi publicada.

Luís Duarte Melo (Coautor: biografia do autor, introdução, transcrição, notas e edição).

Nasceu em Santarém em 1963. Licenciado em Engenharia Agrícola, Pós-Licenciado em Economia Europeia e Master in Business Administration, tem dedicado a sua vida profissional à gestão de empresas. Desde há muito que investiga, redige e publica monografias relativas à sua região de origem – o Bairro ribatejano -, sendo co-autor da Nova Monografia de Alcanede e autor de Santa Casa da Misericórdia de Alcanede – Memória e Identidade, A. Montez – Um Percurso Secular e Crónica da Igreja de Alcanede. É membro do Centro de Investigação Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão.

CONTRIBUTOS

Prefácio: Ivo Castro (2)

Notas Introdutórias: Marlene Carvalho (3), Jorge Vala (4), , Nuno Domingos (5), Aurélio Lopes (6), António Valério Maduro (7), Maria Odete Duarte Lopes de Melo e Maria Ivone Duarte Carrolo.

Capa: Vasco Cordovil.

APOIOS À EDIÇÃO

Câmaras Municipais de Alcanena, Porto de Mós, Santarém e Benavente

SESSÕES DE LANÇAMENTO

Já confirmadas as seguintes sessões de lançamento:

  • Alcanena: 18 de junho, 14,30 h, no Jardim da Biblioteca Municipal, no contexto do FALA – Festival Literário de Alcanena.
  • Santarém: 21 de junho, 18,00 h, na Sala de Leitura Bernardo Santareno.

(2) Professor Emérito da Universidade de Lisboa, destacando-se como linguista e como investigador reconhecido internacionalmente nas áreas da História da Língua e da Crítica Textual. Com uma obra publicada superior a uma centena de volumes, desempenhou um papel proeminente na criação do Departamento de Linguística Geral e Românica e da Área de Ciências da Linguagem da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo figura de referência do seu Centro de Linguística e da investigação em Humanidades. É um profundo conhecedor da obra de Leite de Vasconcelos.

(3) Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Alcanena.

(4) Presidente da Câmara de Porto de Mós.

(5) Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Santarém.

(6) Licenciado em Antropologia Social, Mestre em Sociologia da Educação, Doutorado em Antropologia Cultural pelo ISCSP-UTL. Investigador do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da FCSH-UN (Cátedra UNESCO). Professor do Ensino Superior e Coordenador do Fórum Ribatejo, com várias obras publicadas. Tem-se debruçado sobre a cultura tradicional, em especial à Antropologia do Sagrado e às suas representações simbólicas e festivas, práticas tradicionais culturais e cultuais.

(7) Doutorado pela Universidade de Coimbra, é professor no ISMAI e investigador principal no Centro de Estudos de Desenvolvimento do Turismo (ISMAI), do Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (UTAD) e do Centro de História da Sociedade e da Cultura (U. Coimbra). A sua investigação centra-se na temática da História Rural e do Património e Turismo Industrial. Escreveu dez livros e tem diversos artigos científicos publicados. É membro da Comissão Instaladora do Museu do Vinho de Alcobaça.

Estão ainda previstas sessões de lançamento em Porto de Mós, Benavente e Rio Maior, segundo programa a anunciar.

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