Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/27

Opinião

Uma Rainha e uma Estrada 

Lúcia Serralheiro

«Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura económica e a cultura da família e a cultura dos meios de comunicação.”

in  Papa Francisco ‘Fratelli Tutti’ sobre a fraternidade e a amizade social, p. 133.

Maria subiu ao trono de Portugal em 1776 sucedendo a seu pai D. José. Foi ela que nomeou José de Seabra da Silva para Secretario de Estado dos Negócios do Reino, que por sua vez designou Desembargador Superintendente Geral das Estradas, José Diogo Mascarenhas Neto, que orientou a elaboração do mapa de 1791, com o traçado da Estrada de Rio Maior a Leiria.

E é da análise deste mapa publicado  no livro A Estrada de Rio Maior a Leiria, de  Ricardo Charters D’Azevedo, que a cooperativa cultural Fórum Terra Magica das Lendas, se inspirou  para criar o projeto Rota da Estrada D. Maria I, ao qual se acrescentou, D. Maria Pia, porque entre o concelho de Rio Maior e o da Batalha, há quatro freguesias do concelho de Alcobaça, em que  a Estrada tem  o nome de D. Maria Pia, enquanto que nos outros concelhos se chama D. Maria I.

De Rio Maior a Leiria, de sul para norte, esta rota assinala oito comunidades, que ao longo dos mais de duzentos anos de vida da Estrada nela tiveram importância histórica: Freguesia de Asseiceira, Alto da Serra da Freguesia de Rio Maior, Benedita, Turquel, Moleanos de Évora de Alcobaça e Moleanos de Aljubarrota, do concelho de Alcobaça. Segue pela Freguesia de Pedreiras, concelho de Porto de Mós, e termina na Jardoeira, concelho da Batalha.   Conta com o apoio das respetivas Juntas de Freguesia e municípios, suas associações locais, que maioritariamente existem também à sua beira a oeste da Serra dos Candeeiros, cujas colaborações muito se agradecem.

Mapa Topográfico para a Estrada de D. Maria, do Coronel Luiz Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Serra de Rio Maior a Leiria, 1793

No dia 25 de março deste ano, em todas as oito freguesias, se fez a cerimónia da árvore, homenageando os que lá viveram, lendo poemas e conversando sobre os tempos de antes. Em setembro, no âmbito das Jornadas Europeias do Património, este ano dedicadas ao conceito de Património Vivo, serão inaugurados 8 Totens devidamente identificados e  com código QR onde haverá mais memórias recolhidas entre  as pessoas mais idosas, para que  as suas vidas e a da Estrada sejam conhecidas pelas  gerações mais novas.

A curto prazo pretende-se reconstruir uma visão histórica da 2.ª metade do séc. XX, e de seguida chegar a  todo o séc. XIX através dos relatos viajantes portugueses e estrangeiros que sobre essa Estrada escreveram. Em louvor desta disposição e da Rainha D. Maria I, contextualizar-se-á a vida ao longo desta Rota com as suas paisagens serranas.

No cerimonial em Setembro haverá leitura de poemas e de textos alusivos às memórias recolhidas até esta data. Depois de um diálogo, inspirados por Fratelli Tutti, terminamos com as palavras de Clementina de Moleanos, que assim se despediu: «Os deixados que a gente deixa…»

 Lúcia Serralheiro
21 de agosto de 2023, Terra Mágica das Lendas

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