Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/27

Workshop’ 23

Investigadores e equipas de arqueologia debateram a investigação arqueológica no Morro do Castelo de Leiria

Achados arqueológicos encontrados no Castelo de Leiria

O Workshop’23 decorreu no dia 2 de outubro, na Igreja de Santa Maria da Pena, no Castelo de Leiria, e no Museu de Leiria.

Ao longo do dia foram apresentados, por investigadores e equipas de arqueologia, os resultados mais recentes que surgiram das intervenções arqueológicas realizadas no Castelo de Leiria.

O workshop proporcionou às diversas equipas de investigação e de arqueologia preventiva envolvidas nestes trabalhos um espaço de partilha e discussão de resultados, capaz de promover a concretização do potencial científico deste vasto acervo de dados e espólio arqueológico que é o castelo.

Organizado pelo Município de Leiria, em parceria com a Dryas Octopetala, uma das entidades responsáveis pelos trabalhos arqueológicos realizados entre 2019 e 2020 no Castelo de Leiria e área envolvente, no âmbito da requalificação deste monumento, esta iniciativa teve, também, como objetivo, consolidar o conhecimento apurado ao longo de várias décadas de estudos no castelo.

Assente nos princípios de transdisciplinaridade, partilha aberta de dados científicos e desenvolvimento colaborativo que regem o ambiente científico do séc. XXI, a reunião permitiu uma apresentação dos dados produzidos durante as intervenções possibilitando uma análise conjunta e a sua comparação com a informação anterior. Este processo permite envolver a comunidade científica numa dinâmica colaborativa de investigação e favorecer o aparecimento de novos projetos de investigação sobre o Morro do Castelo de Leiria.

Para a vereadora da Cultura, Anabela Graça, só com iniciativas como esta, se considera possível gerar conhecimento e fazê-lo evoluir. Por este motivo, o Município apoia e incentiva este tipo de atividades, que se consideram de suma importância para o estudo e divulgação do nosso património.

Pretende-se que este encontro alavanque e motive a investigação sobre o monumento e o sítio arqueológico, garantindo-se o necessário apoio para uma investigação alargada e interdisciplinar.

Intervenções do Workshop’23

Audiência do Workshop’23

Anabela Veiga, doutorada em Engenharia Geológica e professora no Departamento de Engenharia Civil do Instituto Politécnico de Leiria, propôs uma análise exploratória para garantir um efetivo reconhecimento geológico do morro do castelo de Leiria e refletiu sobre o seu interesse para a preservação do monumento, referiu que estão identificados alguns locais problemáticos, tanto da estabilidade do maciço rochoso como da interação deste com as fundações do edificado que importa caracterizar e avaliar a fim de se poderem apresentar soluções para a segurança quer do maciço quer das estruturas construídas.

A investigadora questionou-se sobre a metodologia a adotar para esta investigação, nomeadamente quanto às técnicas a utilizar e sobre os riscos inerentes à sua utilização, bem como, se a geologia do local condiciona a estabilidade do edificado, e que tipo de riscos podemos encontrar nesta área.

Sílvia Aires e Nuno Ramos, da empresa Morph / Octogroup, responsável pela monitorização estrutural do Castelo de Leiria, realizada em 2021 e 2022, apresentaram os objetivos, a estratégia implementada e os resultados deste trabalho, ao qual se pretende dar continuidade. Ambos referem que as observações produzidas ao longo do projeto demonstraram a fragilidade de alguns tramos das estruturas muralhadas, quer do último reduto, quer da cerca da vila onde, inclusivamente, viria a verificar-se a necessidade de um trabalho adicional de caracterização geofísica e geotécnica que depois sustentaria a realização de trabalhos arqueológicos de caracterização, sondagens intrusivas e uma intervenção robusta de recuperação das estruturas do monumento na zona do Largo Dr. Manuel de Arriaga, nos muros que ladeiam a Torre Sineira e delimitam a intervenção do Largo de São Pedro, e já realizada em 2022.

Adelaide Pinto, arqueóloga da INLOCO, Arqueologia, responsável pela apresentação “O Morro do Castelo, um lugar em reconstrução – Temporada 2”, relativa aos trabalhos arqueológicos desenvolvidos em 2019/2021 no âmbito do projeto de Requalificação do Castelo de Leiria, referiu que estes trabalhos permitiram não só a confirmação, mas também a aferição de novos dados sobre a ocupação humana deste espaço.

No Workshop’21, foram apresentados os principais trabalhos realizados, a par dos primeiros resultados obtidos, que em grande parte nos surpreenderam nessa data. Ficou atestado, que o Morro do Castelo de Leiria apresenta uma longa diacronia de ocupação, desde o significativo povoado proto-histórico, que aqui se estabeleceu, até aos dias de hoje, sendo um importante ponto de referência cultural.

Nesta apresentação da “2.ª Temporada”, e após a consolidação dos resultados, a arqueóloga avançou um pouco mais, na reconstrução da sua história e proporcionou uma troca de informação fundamental para o avanço da investigação, nomeadamente quanto à relevância das ocupações romanas na zona da Casa do Guarda, e das anteriores estruturas habitacionais de cronologia proto-histórica.

Miguel Almeida, arqueólogo, pela empresa/Octogroup, foi responsável pela conferência “Surpresas em torno do Castelo de Leiria: resultados da intervenção preventiva associada ao projeto de construção dos acessos mecânicos ao Castelo”.

Dos resultados obtidos, destaca-se claramente a descoberta de três contextos inesperados: – A Sul, numa zona muito alterada recentemente, hoje incluída no parque de estacionamento em torno da Sé de Leiria, uma inumação individual, seguramente associada à presença eclesiástica;

– Do lado Norte, a meia encosta, e de forma completamente inesperada, um outro indivíduo inumado, aparentemente isolado, já datado de época medieval;

– No topo da vertente Norte, parcialmente sobreposta pela (forma atual da) fortificação medieval, uma estrutura defensiva de época pré-romana que complementa os resultados obtidos na intervenção do interior do último reduto, acrescentando-lhe dados significativos para as épocas mais recuadas da ocupação do morro do castelo.

Susana Cosme, arqueóloga, apresentou pela Archeo’Estudos, Lda, uma multiplicidade de dados inéditos relativos à longa diacronia ocupacional do Largo de São Pedro. Esta referiu que apesar das limitações impostas pelo tipo de trabalho arqueológico (minimização de impactes de obra de abertura de valas para infraestruturas), foi possível traçar um perfil estratigráfico/cronológico do Largo de São Pedro incluído no núcleo C do Castelo de Leiria, que se inicia na Idade do Bronze e que vem até à atualidade.

A sua apresentação procurou questionar como um espaço muito ocupado na Idade do Ferro foi romanizado em torno de um eixo viário. Como, em época medieval, esse troço foi abandonado e junto a ele foi erigida uma capela e seu espaço de enterramento? Passando a ser, tal como, os antigos Paços Reais de São Simão e mais tarde, o edifício dos Paços Episcopais (atualmente ocupado pela P.S.P.) os pontos cruciais de delimitação do largo. E de como a par com todas estas mudanças está a imensa necrópole associada à Igreja de São Pedro, imensa em área e em cronologia pois vem desde a Idade Média até à época contemporânea.

A arqueóloga apresentou todo um manancial de informação, material e gráfica, que ficará à disposição dos investigadores para estudos mais aprofundados sobre a história de Leiria. Os dados relativos ao povoamento da Idade do Ferro, com mais de uma dezena de estruturas de habitação identificadas e múltiplas sobreposições, um conjunto edificado de época romana de relevo, uma sepultura de cronologia romana, contextos da alta idade média e múltiplos contextos posteriores à reconquista cristã desconhecidos à data, obrigarão a uma revisão das interpretações sobre a ocupação humana na zona do Largo de São Pedro, a zona mais aplanada do morro.

Esta imensa e vasta documentação apresentada poderá implicar o desenho de um projeto futuro de investigação arqueológica, sustentado numa concertação de esforços multidisciplinares, e numa análise conjunta dos dados apresentados e discutidos ao longo das duas jornadas de trabalho, em 2021 e 2023.

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