Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/20

Monumento Nacional está mais inclusivo e atrativo

Castelo de Leiria conclui obras de requalificação de seis milhões de euros

Início da conferência de imprensa junto à portaria

Valorização do património, maior inclusão e mais atratividade turística foram os objetivos apontados pelo presidente da Câmara Municipal sobre a intervenção já concluída no Castelo de Leiria, numa visita realizada esta segunda-feira, dia 29 de março, com os órgãos de comunicação social.

Para Gonçalo Lopes, a obra “tem preocupações de valorização do património e de mudança de paradigma das visitas ao Castelo, já que há uma forte aposta nas acessibilidades e no conforto para vivenciar o espaço em termos culturais e artísticos”.

Anfiteatro cria uma zona de lugares sentados para grupos

Acompanhado pela Diretora Regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, e pelos arquitetos responsáveis pelo projeto, Vasco Pinheiro e João Junqueira, e pela vereadora da Cultura e das Obras Municipais, Anabela Graça e Ricardo Santos, respetivamente, o presidente destacou a importância dos trabalhos agora concluídos, justificando que este é um “investimento estratégico para aquilo que é a nossa visão do futuro e, com esta obra, Leiria estará na linha da frente da recuperação [da pandemia].

Encontram-se também em fase de conclusão os acessos mecânicos ao Castelo, que permitirão a subida a pessoas de mobilidade reduzida, bem como uma maior aproximação entre a envolvente da cidade ao centro histórico, já que poderão ser utilizados gratuitamente e por moradores e pessoas que trabalhem naquela zona.

Cisternas

O autarca salientou a “democratização do acesso” ao interior das muralhas, o que “irá permitir receber turistas que antigamente não sentiam vontade de visitar este património porque era de difícil acesso”, para além do novo potencial cultural do espaço, com a criação de condições para a realização de um vasto conjunto de eventos nas mais diversas modalidades.

Para além do conjunto de trabalhos complementares de requalificação do Largo de São Pedro, da Torre Sineira, do Largo da Sé e do parque verde da encosta, Gonçalo Lopes anunciou o que designou de “Castelo 2.0”, projeto que prevê intervenção no Palácio, porque “há zonas do Castelo a precisarem de ser melhoradas” e “se não houver preocupações de conservação, ele irá ficando deteriorado e estamos a destruir aquilo que é a nossa identidade”.

Segundo a Diretora Regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, a requalificação do Castelo de Leiria “foi um processo desafiante e que nos orgulha profundamente”, pois este é um “exemplo do que se pode fazer para que efetivamente o património seja de todos e possa ser usufruído por qualquer pessoa”.

Encerrado ao público desde junho de 2019 e com abertura prevista para o próximo mês de maio, o Castelo sofreu uma intervenção que incluiu a requalificação da Casa do Guarda, dos celeiros medievais e da Igreja da Pena.

Os trabalhos arqueológicos foram acompanhados por Vânia Carvalho, arqueóloga municipal, para quem “a intervenção muda a perspetiva que temos de Leiria”, pois “há uma história nova para contar” na sequência das descobertas feitas, que “permitem recuar mais na história [cerca de cinco mil anos] e perceber que Leiria era muito mais relevante do que se pensava”.

Arquiteto Vasco Pinheiro na Igreja da Penha

A intervenção no Castelo teve um investimento de 2,6 milhões de euros (incluindo o Largo de São Pedro, que aguarda a consignação da obra), sendo financiada pelo PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano e pelo Pacto de Desenvolvimento e Coesão Territorial em cerca de 2,2 milhões de euros.

As obras dos acessos mecânicos, no Largo da Sé e no parque verde da encosta terão igualmente apoio financeiro dos fundos comunitários, sendo que o investimento de todas as intervenções ascende aos seis milhões de euros.

Uma intervenção estrutural profunda

Vânia Carvalho, arqueóloga municipal, garante que existe uma muralha de há 3 mil anos que está preservada mas não está visível, o que prova a existência de um povoado neste local. Esta nova história vai ter de ser contada, assegura, e, para isso, contará com um serviço educativo preparado para receber os visitantes.

Todo o castelo foi infraestruturado, tendo sido escavado quase um hectare para introduzir canalizações de água, esgotos, fibra ótica e eletricidade. Tudo devidamente enterrado para não perturbar a leitura do monumento ou mesmo eventos como a Feira Medieval. Segundo os arquitetos e a arqueóloga municipal, a obra correu extraordinariamente bem porque não houve derrapagem financeira nem atrasos.

O arquiteto Vasco Pinheiro sublinhou que o seu projeto se conjugou com as várias intervenções anteriores, tendo optado por manter as idades de cada intervenção bem definidas, de forma a conservar a autenticidade das pré-existências  e permitir uma melhor leitura do monumento.

Por sua vez, João Junqueira justificou a criação de um pequeno anfiteatro logo à entrada do Castelo com a necessidade de proporcionar aos visitantes lugares para se sentarem, que poderão servir também para assistir a espetáculos no local. Os percursos de acesso ao Palácio, no topo do Castelo, também irão contar com bancos de betão branco, que irão escurecer com o tempo e têm a particularidade de terem gravado o nome de Leiria com as várias grafias da época, desde os primórdios até à atualidade.

A pedra da calçada do interior do Castelo é dolerito, a pedra mais abundante no maciço onde foi implantado o Castelo (a outra é basalto), tendo os projetistas optado pela primeira por ser o material mais disponível. Por sua vez, as escadas em calcário são de vidraço de Ataíja

Lateral e teto da Igreja

A sinalética já existente foi mantida, por se considerar funcional, tendo os arquitetos optado apenas por colocar os diversos nomes em placas gravadas em alumínio, por ser mais durável.

Na iluminação, houve o cuidado de colocar os postes encobertos por entre as árvores, para terem uma presença discreta no monumento.

Em termos de vegetação, foram retiradas árvores em mau estado e plantas ornamentais que estavam a prejudicar as estruturas. Freixos e loureiros são as árvores mais abundantes no local, tendo-se agora acrescentado algumas árvores autóctones, como o carvalho-cerquinho.

Nas cisternas, as paredes foram mantidas e o chão foi forrado com lajes em betão.

A jóia da coroa desta intervenção é a Igreja da Penha (ou Igreja da Pena), construída pelos mesmos canteiros e arquitetos do Mosteiro da Batalha. A igreja foi mandada erigir por D. João I, simultaneamente com o palácio no interior do Castelo. A igreja românica, de cujo edifício original só restam atualmente os alicerces, era profundamente venerada pela Rainha Santa Isabel. A cobertura em madeira, inteiramente nova, tem discretas entradas de luz no seu centro, o que permite continuar a ver o céu, já que os leirienses vivos só viram o edifício, em ruínas, sem cobertura, mas mantém a sobriedade típica das igrejas e adequa-se a espetáculos de igrejas, como a música sacra.

Os arquitetos optaram por um soalho em madeira, que se sobrepõe ao lajedo em pedra pré-existente. Apesar de não ser original, o lajedo ficou intacto no local, sob o soalho.

Gonçalo Lopes espera impulso económico na cidade com a requalificação do Castelo de Leiria

O presidente da Câmara Municipal de Leiria assegurou, no final, que o espaço requalificado vai servir para eventos culturais, mas também empresariais, de forma a garantir a sua sustentabilidade.

Contudo, esta é apenas a primeira fase da intervenção no Castelo de Leiria, Monumento Nacional desde 1910. Segundo Gonçalo Lopes, “a intervenção no Castelo 2.0 passa pela intervenção no palácio. O ponto alto da visita são as varandas do castelo, é o momento de contemplação máxima, é o momento em que o visitante olha para a panorâmica de Leiria. É uma zona muito mais delicada, muito mais fina, e, por isso, será preparada para que nos próximos anos seja candidatada a fundos comunitários.”

Vânia Carvalho, Suzana Menezes e Gonçalo Lopes junto a um dos bancos com um dos nomes antigos da cidade

Gonçalo Lopes adiantou ainda que “o largo entre o Castelo e a Igreja de S. Pedro será também intervencionado, a obra já está adjudicada, mas o seu início ainda não tem data. Em maio decorrerá a abertura ao público do Castelo e dos elevadores de acesso e só depois terá início essa intervenção importante porque dentro das muralhas do Castelo, existe o m|i|mo – Museu da Imagem em Movimento com enorme potencial, processos de reabilitação urbana, com casas a serem arranjadas, e a torre sineira, cuja intervenção está praticamente concluída, pelo que será mais um ponto de interesse da visita.”

Resumindo, “iremos ter percursos pedestres à volta do Castelo, uma nova zona expositiva e de interpretação dentro do Castelo, os acessos mecânicos, a possibilidade de visitar o Museu de Leiria e a Igreja de São Pedro totalmente arranjada e disponível”, adiantou o autarca que admite uma abertura ao público no Dia da Cidade, ressalvando, contudo, que a data em concreto vai depender do estado pandémico do País.

O número de visitantes ao Castelo de Leiria situou-se próximo dos 90 mil, em 2019, que compara com os 45 mil de 2009. Segundo Gonçalo Lopes, “conseguiu-se duplicar o número de visitantes através de uma agenda cultural bastante intensa, com festivais de música, festivais medievais, teatro e outro tipo de eventos institucionais que transformaram o Castelo num palco das artes. E agora temos o Castelo melhor do que nunca para ser uma âncora para os eventos culturais e para potencial a agenda cultural da cidade.”

Elevador panorâmico junto à Sé de Leiria

Outra novidade avançada por Gonçalo Lopes é que o Castelo vai passar a estar disponível como complemento aos visitantes do Mosteiro da Batalha, nomeadamente, com as visitas das escolas, que terão, assim, mais uma história para contar.

Os três acessos mecânicos ao Monumento serão gratuitos, mas terão controlo e vigilância apertados, apesar de se contar com o civismo de todos para a preservação do espaço público. Um dos elevadores, situado a norte, será diagonal, em carris, semelhante ao da Nazaré, e os outros verticais.

Relativamente aos acessos, o presidente da Câmara Municipal de Leiria referiu que o percurso principal começará num dos parques de estacionamento do centro da cidade, com passagem pela Praça Rodrigues Lobo, Rua Direita, Sé e Castelo, via elevador.

Por sua vez, os grupos organizados estacionarão junto ao Estádio e poderão aceder diretamente ao monumento ou, alternativamente, os autocarros poderão deixar os passageiros no centro da cidade e vir recolhê-los, no final da visita ao Castelo, no parque de estacionamento do Estádio.

Confrontado com a hipótese de possíveis polémicas devido às opções arquitetónicas nesta intervenção, Gonçalo Lopes admite que possam ocorrer, mas até as considera positivas porque será “um cartão de visita para o monumento.” O edil revelou que o evento de abertura será uma surpresa e manifestou a convicção de que haverá um impulso económico na cidade com a requalificação do Castelo de Leiria.

Os números da requalificação do Castelo de Leiria

PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano

Acessos mecânicos – 1,8 milhões de euros (possível comparticipação de 1,55 milhões);
Núcleo amuralhado -1,856 milhões de euros (possível comparticipação 1,57 milhões);
Largo da Sé e parque verde da encosta – 1,6 milhões e (possível  comparticipação 1,36 milhões)

Pacto de Desenvolvimento e Coesão Territorial

Intervenção na casa do guarda, celeiros medievais e cobertura na Igreja da Penha – 772 mil euros (possível comparticipação e 656 mil euros)

Total da intervenção no Castelo de Leiria: 6 milhões (possível comparticipação 5,1 milhões).

Mário Lopes
(Com GRPG|CML)

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