Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/24

Opinião

Qual Orçamento de Estado?

Pedro Cintra

Qualquer análise ao chumbo do Orçamento de Estado para 2022 não pode fugir à constatação do jogo de sombras em que a política nacional se tornou. Cria-se uma crise política artificial, encena-se a morte da Geringonça e debilitam-se as lideranças de Direita.

Não por acaso assistimos diariamente nas televisões e jornais à dificuldade dos diferentes analistas políticos ou de economia em apontar quais as razões objectivas que possam ter levado ao falhanço das negociações entre o Governo e os parceiros de esquerda para a viabilização do próximo orçamento de Estado. Isto porque nesta matéria, o que parece NÃO é.

Ainda em fase prematura do processo negocial, em meados de Outubro, o presidente Marcelo preparou o caminho acenando com o papão da crise política: em caso de não aprovação do Orçamento teria de dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas. Segundo ele, “dificilmente o Governo poderia continuar a governar com o orçamento deste ano dividido por 12, sem fundos europeus”. Um argumento completamente questionável pois não existe qualquer regra que impeça o país de receber os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no cenário de um orçamento chumbado.

Tendo sido a “Geringonça” criada como um projecto de poder na perspectiva do PS e de crescimento e consolidação de eleitorado nos casos de CDU e BE, a possibilidade de eleições antecipadas nesta altura surge como última oportunidade para a sobrevivência desse modelo político. O PS ambiciona uma maioria absoluta ou reforçada, o BE e a CDU um novo fôlego iludindo as suas hostes com um afastamento virtual da governação socialista. E tudo isto num período em que os maiores partidos de Direita têm as suas lideranças postas em causa ou em processo de transição.

Ainda recentemente o ministro Pedro Nuno Santos afirmou convictamente que a Geringonça “não foi um parêntesis na nossa democracia”. A experiência pode ser repetível. Pudera!

Cada vez se torna mais claro que entre Governo, BE e CDU, relativamente ao Orçamento, não houve propriamente uma discordância mas sim uma concordância em discordar.

Tempos perversos estes…

… em que um Presidente da República considera um acto eleitoral, não o funcionamento normal da democracia, mas uma “tempestade perfeita”, juntado-a à crise económica e à crise pandémica.

… em que um Orçamento de Estado se resume a uma manobra de interesses partidários e não de política pública.

O meu desejo é que os portugueses deixem de se resignar ao papel de tristes figurantes mas que nas eleições que se adivinham sejam os protagonistas de uma mudança necessária. A chave do fim de ciclo é nossa!

Pedro Cintra
Vice Presidente da Concelhia de Alcobaça do CDS-PP

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