Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/18

Abordados laços históricos de Portugal com outros povos

José Dias apresenta na Biblioteca Municipal do Cadaval livro “Goa – Passado, que Futuro?”

José Graça Dias e José Bernardo Nunes

O cadavalense José Manuel Graça Dias defendeu recentemente, na Biblioteca Municipal do Cadaval, o papel de Portugal no caminho para o reconhecimento da identidade goesa, pelos laços históricos entre os dois povos. É uma das ilações do encontro em torno do livro “Goa – Passado, que futuro?”, no regresso das sessões presenciais à biblioteca cadavalense.

José Manuel Graça Dias radicou-se em 2019 na Dagorda (Cadaval) e é coautor e coordenador do livro apresentado no Cadaval no dia 13 de novembro.

Numa parceria com Elsa Rodrigues dos Santos e outros colaboradores, José Dias aborda Goa – território indiano que foi português durante cerca de 450 anos e está atualmente integrado na Índia, que a anexou em 19 de dezembro de 1961, sendo Estado Federado desde 1 de janeiro de 1987.

A obra, com o selo da Calçada de Letras (dezembro 2012), conta ainda com testemunhos de «amigos de Goa», tal é o caso do general Ramalho Eanes, antigo Presidente da República Portuguesa.

José Dias assume-se «um português nascido em Goa», que só em adulto viria a aprofundar os conhecimentos acerca da história da Índia e sobre a cultura hindu.

Emigrado em 1962 para Lisboa, assistiu, em dezembro de 1961, ao avanço lento das tropas indianas e à rendição das forças armadas portuguesas.

Para o autor, a política do Estado Novo foi nociva para os goeses porque criou a ideia dos «portugueses de segunda classe» e estagnou a economia de Goa. «A história de Portugal não pode esquecer os goeses», declara.

«Portugal e a India só estão interessados em relações económicas», afirma. «O futuro das populações de Goa, Damão e Diu, veículo principal da relação de Portugal com a India, ficou um bocado esquecido», entende o autor.

«Penso que os goeses representam um veículo de ligação da Europa à Asia», acrescenta José Dias, considerando que a Europa não pode declinar o seu passado. «Gostava de ver sinais positivos no futuro», observa.

«Cada vez mais se vê Goa a indianizar-se e a perder identidade. É preciso lutar contra a corrente, é preciso ir a Goa. E falar português. Há goeses que têm saudades da língua portuguesa», relata.

«Penso que os portugueses devem visitar Goa. Porque há ainda ligações dos portugueses a Goa», salienta, não obstante considerar que a rendição portuguesa, em ‘61, era inevitável.

«Não quero ser conservador; não quero voltar ao passado, mas penso que o passado não deve ser desrespeitado», declara.

No mesmo âmbito, José Bernardo Nunes, presidente da Câmara Municipal do Cadaval, considera que é importante preservar as tradições. Segundo o autarca, se nada for feito, a tendência será para desaparecerem as referências culturais portuguesas em Goa. O edil referiu que ao visitar aquele território, não encontrou outras referências a Portugal para além de alguns traços arquitetónicos. «Era necessário haver possibilidade do ensino do português», acrescenta.

Por seu turno, José Dias entende que era necessário procurar influenciar a Índia no sentido de se preocupar mais com Goa, Damão e Diu.

«Estamos a pensar pedir uma entrevista à senhora embaixadora indiana, levar o livro e saber o que é que vai fazer o membro observador indiano na CPLP [Comunidade Portuguesa de Língua Portuguesa]. É capaz de procurar só negócios», afirma.

José Dias defende a garantia do respeito pela memória e cultura portuguesas em Goa, Damão e Diu, na medida em que constituem a história daqueles povos.

«O livro é um mosaico com vários aspetos da cultura goesa. Ele defende a identidade goesa. E dá a opção de fazer um referendo junto dos goeses sobre a independência, ou de Goa integrar a CPLP como membro coordenador, função que, neste momento, foi transferida para a Índia.

Biografia de José Manuel Graça Dias

José Manuel da Graça Dias, nascido em Margão (Goa) em 1947, reside em Portugal desde 1962 e no concelho do Cadaval desde 2019.

Antigo preso da PIDE/DGS, por ações contra o aumento da carestia de vida e guerra colonial, é licenciado em Economia (ISEG) e em Sociologia (ISCTE).

Possui mestrado em Economia, Política e Planeamento de Energia (ISEG), pós-graduação em Estudos Europeus (FDL) e doutoramento de Sociologia (ISCTE).

Para além do trabalho que ora apresenta, conta já com a seguinte bibliografia em nome próprio: “Estudo sobre as perdas de água em quantidades (Mcúbicos), nas áreas dos Serviços Municipalizados de Oeiras em 1982” (1983, versão mimeografada); “Statistical data is the pulp and paper industry and other sectores related” (Eucepa, Florença, 1986); “Contribuições para o estudo das relações entre a união económica e monetária e a racionalização do desenvolvimento industrial” (AAFDL, 1994).

É ainda coautor de dois dicionários de economia e gestão português-inglês (edição de autor, 1995/96) assumindo ainda a coautoria da obra “Voz de operário na alvorada do século XX”, (ed. Imprensa Municipal, 2009).

Encontra-se atualmente aposentado do setor marítimo-portuário, como economista, desde 2011.

   Fonte: BF|SCRP|CMC

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