Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/19

Emocionados e muito agradecidos pela forma como foram recebidos

Refugiados ucranianos chegam aliviados a Leiria mas o coração continua na Ucrânia

Tatiana Bezuhla-Korchevska, Natália Novikova (em cima), Alona Nevkipilova e Viktoria Nazarenko (em baixo)

Emocionados e muito agradecidos pela forma como foram recebidos em Portugal. Foi assim que chegaram a Leiria, no dia 9 de março, os 21 refugiados ucranianos provenientes de Kiev e Tcherkássi. As saudades dos familiares que ficaram e a preocupação com a sua segurança e as suas casas notam-se do rosto de todos e agora só pedem para descansar, trabalhar e para que os ataques levados a cabo pela Federação Russa terminem rapidamente.

Foram 21 os ucranianos que chegaram na noite de quarta-feira a Leiria. Com idades compreendidas entre os 6 e os 46 anos, são na maioria mulheres e crianças, que deixaram para trás os restantes familiares, nomeadamente,  homens que não puderam sair da Ucrânia, e doentes, sem capacidade física para deixar o país.

O encontro do Tinta Fresca com os refugiados teve lugar no dia 10 de março, nas instalações do Centro de Acolhimento Temporário para refugiados no Estádio Municipal de Leiria, com a ajuda de Natália Novikova, ucraniana a residir em Portugal há 20 anos, que relatou as preocupações dos refugiados, mas também o sentimento de “agradecimento pela forma como foram acolhidos em Leiria” e por todo o processo que os trouxe para Portugal.

Alina Nahorna e a filha Sofia

De salientar que os 21 refugiados vieram para esta região de Leiria porque “tinham a residir nesta zona, familiares ou amigos”, explicou Natália Novikova, acrescentando que 11 já foram acolhidos nas respectivas casas dos familiares e os restantes, ainda ficam durante mais algum tempo no Centro de Acolhimento, porque “os familiares não tinham condições para os receber em suas casas”.

Alina Nahorna, de 39 anos e a sua filha Sofia, de 16 anos, vieram de Tcherkássi, cidade a quase 400 km de Kiev. Alina revelou que estavam integradas num grupo que tentou abandonar a Ucrânia primeiro através da fronteira com a Moldávia e depois pela Roménia, mas isso “não foi possível” porque com elas “viajava um homem de 35 anos”, que não “podia sair do país, apesar dos seus problemas de saúde”, o que fez com que todo o grupo voltasse a procurar outra saída.

Alina conta que só à terceira vez, e através do “contato de voluntários ucranianos em Uzhhorod com os voluntários portugueses conseguiram autorização para sair do país e vir para Portugal”. Agora, apesar de preocupada com quem ficou, “está mais calma”, referiu agradecendo tudo o que têm feito por si e as condições de acolhimento em que foram recebidas.

Por sua vez, Tatiana Bezuhla-Korchevska, 38 anos, veio com a irmã Nádia, de 35 anos e com a filha Yulia, de 15 anos. Residente em Kiev, Tatiana, esteve “durante dois dias num bunker” e só depois a família decidiu sair da cidade de carro. A funcionária pública ucraniana contou que o marido teve que ficar na Ucrânia “apesar de doente” e que agora está “a distribuir comida e medicamentos”.

Viktoria Nazarenko e os sobrinhos Danilo e Marharita

Tatiana explicou que também os seus pais ficaram na Ucrânia porque “não quiseram abandonar o país” e que ela só decidiu sair “por causa da filha Yulia”. Visivelmente emocionada ao falar nos familiares e amigos que deixou para trás, admite que tem sido possível falar com eles e saber que, “por enquanto, estão bem”.

Por sua vez, Viktoria Nazarenko, de 46 anos, chegou de Kiev com os dois sobrinhos, Marharita, de 12 anos e Danilo, de 9 anos. Viktoria deixou o seu filho de 25 anos, diabético, na Ucrânia, que,  “apesar da doença, não quis deixar o país”, explicou emocionada. Além do filho, Viktoria deixou também a sua irmã, que ficou a tomar conta dos seus pais, que se encontram doentes.

Viktoria, que era educadora de infância, revela que tem tido contato com o filho e que “apesar de este dizer que está bem” a sua preocupação “é imensa”. A ucraniana refere também que apesar do conflito, “os seus familiares não têm tido falta de alimentos nem de medicamentos”, situação que Natália Novikova, justifica com “o excelente trabalho que tem sido desenvolvido pelos voluntários “.

Mais tímida e cansada, também Alona Nevkipilova, de 38 anos, agradeceu a forma como todos têm acolhido os ucranianos, quer em Portugal, quer na fronteira por onde passarm.

Crianças já brincam no Estádio Municipal de Leiria

Questionadas sobre se pensam regressar à Ucrânia quando o conflito passar, as refugiadas referem que “não sabem se irão voltar ou não”, apesar de o desejarem, mas neste momento o que lhes importa é “descansar e arranjar trabalho” para “puderem ter uma vida melhor”, garantem.

Recorde-se que o Município de Leiria criou um Centro de Acolhimento Temporário para refugiados no Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa, onde duas dezenas de camarotes foram transformados em quartos, que podem alojar atualmente até 54 refugiados, sendo que o número de “quartos” pode vir a aumentar. Os quartos, têm cama e/ou beliches e podem ficar alojados até 3 pessoas em cada quarto, sendo que os balneários do estádio são usados para o banho diário dos refugiados. Existe também uma zona para as refeições, uma zona de descanso e outra para os mais pequenos brincarem.

     Mónica Alexandre

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