Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/19

Atividade integrou-se na Primavera de Livros

Isabel Pereira Rosa apresentou livro “Foz – Uma história da pandemia” na Biblioteca do Cadaval

Paula Cravo, Isabel Pereira Rosa e António Meleiro

Decorreu recentemente, na Biblioteca Municipal do Cadaval, a apresentação do nono livro de Isabel Pereira Rosa – escritora e antiga professora natural da Tojeira (Vilar, Cadaval) – intitulado «Foz: uma história da pandemia». A iniciativa integrou-se na Primavera de Livros, evento de incentivo à leitura a acontecer no Cadaval entre abril e maio.

A apresentação do mais recente trabalho da escritora cadavalense aconteceu no dia 9 de abril, tendo contado com a presença e intervenção dos pneumologistas Paula Cravo e António Meleiro.

Paula Cravo começou por destacar o empenho na pesquisa científica levada a cabo por Isabel Pereira Rosa, para a construção deste seu romance.

«A Isabel conseguiu colocar os termos científicos de uma forma muito clara e transparente, o que se traduziu numa linguagem muito acessível», acrescentou a médica.

«O narrador é o João, que foi vítima da pandemia Covid-19 e foi ventilado. Durante o tempo que está sedado e curarizado (coma induzido), ele consegue lembrar-se de todo o passado, e vai aos tempos remotos da sua infância, aos tempos passados com o avô na Foz, e todas as vivências são relacionadas com a Foz do Arelho, nomeadamente o lugar dos barcos», aponta Paula Cravo.

«Ele consegue estabelecer uma relação com o Dr. Salvador, uma relação médico/doente que nestes momentos é tão difícil conseguir», observa a pneumologista.

«Houve uma altura crítica da pandemia em que todos os hospitais estavam cheios e não havia sequer um ventilador disponível nem oxigénio. Felizmente, muita gente sobreviveu. Infelizmente, muitas pessoas ficaram com sequelas e muitas pessoas morreram, e todas as pessoas são importantes», realçou.

«O ter tempo para falar, o tocar… o João teve isso, que é uma coisa que nem toda a gente consegue ter na vida. Durante o internamento, o João voltou ao passado, recordando-se da ida para Paris, das vivências todas, mas existe [no livro] uma relação médico/doente, que é aquilo que tanto falta», reforça a clínica.

António Meleiro, por seu turno, salientou a importância da relação médico/doente já referida pela colega.

José Bernardo Nunes com Isabel Pereira Rosa

«Não só na Covid, mas em todas as patologias, uma boa relação entre médico e doente é meio caminho andado para a confiança, para o cumprimento terapêutico, para o à-vontade de pôr dúvidas e para o sucesso daquilo que se pretende», defende o pneumologista.

«O que eu mais gostei neste livro foi, de facto, da revisita que o João faz desde a infância até à atualidade. E eu já li e reli o livro, e gosto imenso de o fazer. O João poderia ser eu, pois somos do mesmo grupo etário e eu também valorizo muito as minhas recordações de infância. Ele na Foz, eu quando ia de férias para casa dos meus avós paternos, em Melgaço», afirmou António.

«Toda a vivência do João desde a escola… Depois, no final da adolescência, o problema da guerra colonial, o ir para a guerra ou ir para o estrangeiro para a evitar, são tudo vivências que eu também vivi. Faz-me reviver e repensar, com muito gosto, como se fosse uma reavaliação do que fiz», declarou.

«O livro ajuda a revisitarmo-nos. É um excelente exercício de psicanálise, voltar atrás, ver o que foi a nossa vida, com sentido crítico, não necessariamente moralizador», disse.

«É tudo isto que me faz eleger este livro da Isabel como o melhor de todos», concluiu António Meleiro.

Isabel Pereira Rosa, por sua vez, lembrou que esta apresentação do seu nono livro na Biblioteca Municipal acontecia 24 anos depois de ter apresentado o seu primeiro trabalho literário nas antigas instalações da biblioteca cadavalense.

«Poderão interrogar-se porque é que este livro é dedicado à Foz do Arelho», introduz a escritora. «Como quase todos os que aqui estão deverão saber, eu morava aqui no Concelho, mais propriamente na Tojeira, mesmo ali à beira da serra, e há cerca de seis anos comecei a ter graves problemas respiratórios, pelo que me foi recomendado ir viver para mais perto do mar», explicou.

«De certa forma, a Foz salvou-me. Por outro lado, ao sair de um sítio tão belo, não poderia ir para um sítio que não fosse também muito belo, embora de uma beleza diferente. E eu costumo dizer que agora me divido entre a serra e o mar (lagoa)», assinalou.

A autora declarou ainda que viu, neste livro, uma forma de agradecer à Foz, pelo bom acolhimento e por lhe ter permitido continuar a viver.

No final do encontro no Cadaval, a escritora avançou ter já outro romance pronto, com saída apontada para o final do ano.

Recorde-se que o site municipal (www.cm-cadaval.pt) disponibiliza o restante programa da Primavera de Livros, que se prolongará até maio e está a incluir mais apresentações de livros, hora do conto, feira do livro solidária e leituras encenadas. Participe!

Nota biográfica de Isabel Pereira Rosa

 Isabel Pereira Rosa nasceu em 1954, na Tojeira, uma aldeia situada nas faldas da Serra de Montejunto, no distrito de Lisboa, mas reside atualmente na Foz do Arelho.

Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, e especializou-se em Ciências de Educação, na Área de Educação Especial, na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação de Lisboa.

Trabalhou em importação/exportação, traduziu livros e foi professora de Língua Portuguesa, de Inglês e de Ensino Especial, em várias escolas do país.

Em 1998, publicou o livro de ficção “Folhas Soltas”, numa edição SOL XXI, e em 2000, o livro infantil “O Tesouro da Serra de Montejunto, edição da LeaderOeste.

Seguiu-se, em 2003, “Sozinho (s)em Casa”, publicação também infantil, edição da Câmara Municipal do Cadaval, e em 2009, “Memórias de uma Professora”, pela Chiado Editora.

Em 2011, edita o romance “A Substância do Tempo”, também pela Chiado Editora, prosseguindo, em 2014, com “Diário da minha Loucura”, pela Lua de Marfim.

Em 2015, edita “Uma pedra contra o peito”, pela Althum.com, e, em 2019, chega “Parkinson, meu amor”, a cargo da editora Textiverso. Publicou ainda vários contos e poemas, em boletins, revistas literárias e antologias.

Na rede social Facebook, publica regularmente excertos das suas obras, na página Isabel Pereira Rosa – Poesia e Prosa, e poesia e contos no site brasileiro “Palavra”.

Em 1987, recebeu o 1.º prémio do Concurso Literário Biblioteca da Nazaré, com o conto “Norte”; em 2009, recebeu uma menção honrosa, com o conto “Idade não é Velhice”, nos VII Jogos Florais de Avis, e, em 2019, foi-lhe atribuída uma menção honrosa pela “Ode a Póvoa de Varzim”, no concurso Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas.

Em 2017, integrou os júris do Prémio Literário Fernanda Botelho (Cadaval) e do Concurso Nacional de Leitura, fase regional.

Em 2021, chega então o seu mais recente romance, “Foz – Uma história da pandemia” (Astrolábio Edições).

     Fonte: BF|SCRP|CMC

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