Edição: 281

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/4/27

No âmbito da iniciativa Primavera de Livros

Lénia Rufino apresentou romance de estreia na Biblioteca Municipal do Cadaval

Dinis Duarte e Lénia Rufino

Integrada nas atividades da Primavera de Livros, a Biblioteca Municipal do Cadaval recebeu, no dia 30 de abril, a apresentação do romance ficcional “O Lugar das Árvores Tristes”, de Lénia Rufino, que marcou a estreia da escritora sintrense nas edições literárias. Nele, a autora aborda as inter-relações numa pequena comunidade alentejana, num tempo em que a igreja assumia um papel fulcral.

A abrir o encontro, o vereador Dinis Duarte reforçou a intenção de o Município, através da Biblioteca Municipal, manter a vontade de receber escritores mais ou menos consagrados e outro tipo de artistas e de arte. «Temos todo o gosto em acolher-vos e em poder proporcionar aos nossos munícipes contacto com quem tem algo para transmitir», disse, dirigindo-se a Lénia Rufino.

Tânia Camilo, técnica da Biblioteca Municipal, revelou conhecer a autora há cerca de 20 anos, bem assim o seu antigo sonho da escrita. A bibliotecária aproveitou para apresentar o novo formato de “roda de conversa” que a biblioteca passou a ter, na apresentação de autores, assente no lançamento coloquial de perguntas aos visados, contando sempre com a colaboração ativa do público presente.

A ação deste primeiro livro de Lénia Rufino, lançado em 2021, passa-se no período pré-25 de Abril, no Alentejo, terra da sua família materna.

«O livro nasce de algo completamente inusitado», explica a escritora. «Eu tenho um amigo fotógrafo que foi a um funeral, no cemitério de Rio de Mouro, onde eu vivo, ao pé de Sintra, e ele tirou uma fotografia, à saída do cemitério, onde se vê a mata que está em frente. Aquela fotografia inspirou-me a escrever um microconto baseado numa das minhas memórias mais antigas, que é a memória do primeiro funeral a que eu assisti, no Alentejo, terra da minha mãe. Percebi que esse microconto poderia crescer, pois eu tinha mais coisas para contar», declara.

«O centro da história é completamente ficcionado, mas há vários episódios no livro que aconteceram realmente comigo», adianta Lénia. «O livro passa-se no final dos anos 60, início dos 70 (eu só nasci em 79), e trata de uma relação de poder muito forte entre a igreja e as pessoas da aldeia».

De acordo com Lénia, este seu romance demorou quatro anos a concluir e nove anos entre escrever e editar. «Tinha um filho pequenino e cheguei a estar temporadas de oito, nove meses sem pegar no livro. Tenho um trabalho a tempo inteiro e tenho de arranjar janelinhas de tempo para conseguir escrever, e na altura foi o que consegui fazer», justifica. «E depois foi a caça à editora, o que em Portugal é um trabalho um pouco árduo», considera a escritora.

«Sem ser intencional, a Isabel, que é a personagem que conduz o livro, tem muito de mim, apesar de não ser ela a personagem principal», conta a autora.

«A história é sobre Lurdes, mãe de Isabel, na sua relação com a família, com a aldeia e com a igreja e o seu poder, que condicionava/condiciona muitas vivências, principalmente em meios mais pequenos», sustenta.

Lénia revela que aos 10 anos decide que queria ser escritora, sonho que só concretizaria 32 anos depois. «Fui escrevendo contos e coisas mais pequenas, onde eu estava mais confortável e mais defendida. A dada altura, decidi que precisava de me aventurar para um formato longo», assinala. «Não tive pressa de editar, não foi uma coisa forçada», acrescenta.

«Fui fazer cursos com o João Tordo, que é um dos meus escritores favoritos. Foi onde eu percebi que não há uma fórmula para escrever romances. Cada autor tem a sua maneira de trabalhar os livros, e até um mesmo autor pode fazê-lo de maneiras diferentes», observa Lénia.

«Eu quero é contar histórias e pôr pessoas dentro dos meus livros, a lerem-nos e a sentirem que estão ali», realça.

«É importante manter uma cadência de escrita, não forçando. Se a escrita do livro não estiver a fluir, escrever qualquer outra coisa, só mesmo como exercício de escrita», defende a escritora, que tem já em marcha um segundo romance.

Este seu primeiro trabalho, “O Lugar das Árvores Tristes”, encontra-se à venda em livrarias, estando também disponível na Biblioteca Municipal do Cadaval.

Acerca da autora e do seu livro

Lénia Rufino nasceu em 1979, em Lisboa, tendo crescido nos subúrbios, rodeada de livros. Estudou Publicidade e Marketing, embora o seu curso ideal fosse Psicologia Criminal, sua grande paixão, a par da escrita. Aos dez anos, escreveu o seu primeiro conto e decidiu que um dia haveria de ser escritora, o que diz ter demorado 32 anos a concretizar.

Publicou vários contos no DN Jovem, plataforma de divulgação de novos talentos que lamenta tenha sido extinta. É autora de blogues desde 2003, estando, atualmente, a colaborar com o Repórter Sombra (www.reportersombra.com), onde publica contos mensalmente. O Lugar das Árvores Tristes é o seu primeiro romance.

Este seu livro de estreia (editado pela Manuscrito, do Grupo Presença) é entendido como «profundamente sagaz e envolvente», que faz um retrato do interior português, preso na tradição religiosa da década de 1970.

Nele, a personagem Isabel inicia uma busca por esclarecimentos acerca de uma mulher chamada Eulália, assunto de que ninguém quer falar. «Inesperadamente, Isabel vê-se confrontada com uma teia de mentiras, maldade, enganos e crimes que a levam a compreender o passado misterioso da mãe e a forma quase anestesiada da sua existência», refere a sinopse da obra.

       Fonte: SCRP | CMC

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