Edição: 287

Diretor: Mário Lopes

Data: 2024/10/11

Durante dois anos

Maçã de Alcobaça sobe preço médio de venda em apenas 8% face a 40% de aumento nos custos de produção

Maçã de Alcobaça

Várias organizações de produtores de Maçã de Alcobaça IGP apresentaram uma análise de valores de variações comparativos correspondente à ponderação das quantidades vendidas de todas as 8 variedades que fazem parte da Indicação Geográfica Protegida e da evolução dos seus custos de produção das duas últimas campanhas.

A variação do preço médio de venda corresponde a todos os diferentes tipos de qualidade e serviço, mas também dos diferentes tipos e natureza de clientes, desde a distribuição, exportação, mercado tradicional e indústrias alimentares.

O ligeiro aumento de preço verificado nestes 2 anos coincide com a maior preocupação alguma vez vivida pela comunidade produtora da Maça de Alcobaça IGP e sua imagem coletiva, uma vez não estar minimamente em linha com o aumento dos custos de produção verificados no mesmo período, que superaram os 40% para a maioria das empresas e famílias produtores de maça de Alcobaça.

Para esta comunidade empresarial e de famílias produtoras a realidade atual corresponde a serem forçados a conviver com uma inflação dos custos de produção desproporcionada e inigualável da ordem dos 40%, bem acima da inflação média veiculada nos meios de comunicação, ou mesmo sequer com a inflação verificada e anunciada nos bens alimentares.

Para ajudar a compreender esta dura e incompreensível realidade, partilha-se um mapa de variação de custos médios de produção no campo e nas centrais fruteiras onde as maçãs passam por 2 fases complexas e duradouras de quase 2 anos de ciclo produtivo, para poderem chegar em boas condições de frescura, segurança, apresentação e qualidade a todos os consumidores e durante todos os dias do ano.

Variação em % dos principais custos produção Maçã de Alcobaça IGP

Constata-se assim nos últimos 2 anos o aumento desses mesmos custos de produção no campo da seguinte ordem:

1- Salários 19,7%
 2- Fertilizantes 75,0%
 3- Produtos fitofarmacêuticos e biotécnicos 45,8%
 4- Gasóleo Agrícola 83,8%
 5- Outros custos 21,0%

Os primeiros valores apresentados referem se aos 4 principais fatores de produção frutícola que representam no campo cerca de 80% de todo o custo de produção, e ainda um grupo de outros custos que representa uma imensa diversidade de rubricas de menor valor que no seu total perfazem os restantes 20% de custos obrigatórios a fazer uma maçã no pomar.

Este último grupo de outros custos incluem os custos administrativos, os de controle e certificações, de seguros e seguros colheitas, de manutenção de equipamento, de amortizações, energia e regas e custos financeiros, apesar de no seu total representarem apenas cerca de 20% de fatores de produção registaram ainda um aumento no período em análise de 21%.

A ponderação da totalidade dos custos referidos considerando a incidência de cada um, nas últimas 2 campanhas proporcionaram um aumento médio de produção no campo da ordem dos 35%.

Durante o mesmo período dos últimos 2 anos, referentes à fase complementar de pós-colheita o aumento dos custos registados em central fruteira foram os seguintes:

  1. a)Salários 19,7%
  2. b)Embalagens 35,0%
  3. c)Energia Elétrica 394,0%
  4. d)Gasóleo Rodoviário 36,5%
  5. e)Outros custos 28,0%

Este tipo de custos corresponde a todo o processamento após a colheita da maçã, tais como, conservação, calibragem, classificação, embalamento e transporte, ou seja, também as 4 maiores rubricas que representam cerca de 70% de todos os custos de preparação e processamento.

Para além das 4 principais rubricas de gastos (salários, embalagens, energia e combustíveis), existe ainda um grupo diverso de outros custos que podem representar cerca de 30% do total de custos de processamento e preparação em pós-colheita, onde se incluem os custos administrativos, custos financeiros, custos de manutenção de equipamentos, custos com amortizações, custos de auditorias, custos com certificações e qualidade, custos com promoção e divulgação, entre outros.

Constata-se aqui através da ponderação das diferentes 5 rubricas um aumento de custo vertiginoso e assustador próximo dos 50%, ainda superior à etapa anterior referente aos custos de produção no campo.

Apesar de alguma heterogeneidade da dimensão e natureza das diferentes Organizações de Produtores de Maça de Alcobaça, assim como alguma heterogeneidade de dimensão e condições de cada exploração ou família frutícola,  facilmente e tristemente se verifica que o aumento da totalidade dos custos de produção e processamento de maça de Alcobaça IGP nas 2 etapas produtivas oscila entre os 38 e os 44%, situação bem superior aos valores globais de inflação calculados e veiculados pelos órgãos de comunicação social.

Também é conhecido e público, assim como confirmado pelo INE que o preço da maçã em Portugal não sofreu aumento médio do preço de aquisição da ordem dos 30% conforme anunciado de modo generalizado para os alimentos frescos, mas sim ausência de aumento registável em completo desalinhamento com a realidade dos custos de produção, apesar de algumas referências ou sistemas de produção e qualidade menos expressivas terem registado aumentos face a referências normalizadas, mas trata-se apenas de referências e quantidades residuais em clientes pontuais.

Importa referir que existem situações com registo de acréscimo de custos superiores aos apresentados, mas as variações apresentadas corresponderem a médias obtidas em função da dimensão e tipologia de cada família produtora e em função das diferentes dimensões e natureza de cada Organização de Produtores de Maçã de Alcobaça IGP a que pertencem.

Resumindo, para as empresas produtoras de Maçã de Alcobaça IGP, enquanto consórcio de mais de 500 famílias organizadas (e outros tantas famílias ainda pequenas produtoras), através das suas Organizações de Produtores a inflação dos últimos 2 anos foi da ordem dos 40% e não de apenas os valores médios anunciados pela comunicação social nos últimos tempos para o País.

Razão pela qual se deve compreender que a inflação esperada dos preços ao consumidor para este tipo de produtos, não pode corresponder a inflação média nacional, mas deveria corresponder à inflação específica dos custos de produção dos fruticultores, o que não se está a verificar, para enorme prejuízo e desmotivação da produção.

Outro comparativo se poderia fazer, com a realidade vizinha espanhola onde os 7 maiores custos de produção identificados neste trabalho (Energia, Gasóleo Agrícola, Gasóleo rodoviário, Embalagens, Fertilizantes, Produtos Fitofarmacêuticos, Custos financeiros) apesar de terem sofrido aumentos gigantes nos últimos 2 anos pelas questões conhecidas, são todos eles hoje mais baratos que em Portugal em valores correspondentes a 2 dígitos percentuais, sem exceção para estes 5 casos. Apenas não está em linha com esta realidade cruel para os agricultores portugueses o custo dos salários no nosso país vizinho.

É com este aumento de custos da ordem dos 40% que estas famílias e empresas vivem diariamente e administram as suas atividades, tendo conseguido apenas recuperar em 2 anos cerca de 8% do preço de venda.

E sobre este tema deveria estar a opinião pública e os consumidores que preferem a qualidade portuguesa preocupados, uma vez, a não se recuperar o equilíbrio dos custos com o preço, a produção deste tipo de alimentos vive em regime de insustentabilidade, o que a continuar dificultara ainda mais a produção dos mesmos e a oferta para a alimentar os portugueses nestas condições e neste abismal fosso causado pelos anormais aumentos de custos.

Assim como importa investigar, ou constatar apenas onde estão os verdadeiros aumentos de custos e consequentemente os verdadeiros responsáveis pelos aumentos de custos dos alimentos portugueses, que no caso da Maçã de Alcobaça IGP são; os fertilizantes 75%, produtos fitofarmacêuticos e biotécnicos 45,8%, combustíveis agrícolas 83,8%; salários apenas 19,7% e outros custos variados 21%, dos quais os custos financeiros ao agricultor com financiamentos bancários aumentaram mais de 200% no período.

Relativamente aos custos de processamento pós-colheita a realidade é ainda mais dura, onde se verificam aumentos de custos completamente insuportáveis para a produção de alimentos, tais como; embalagens 35%, combustíveis 36,5%; salários 19,7%, energia mais de 300%, outros custos 28%, onde se verifica dentro destes um aumento dos custos financeiros superior a 200%.

Em resumo, para a comunidade frutícola, os temas Energia, Combustíveis; Embalagens, Fertilizantes, Produtos Fitofarmacêuticos e Biotécnicos e Custos financeiros são os grandes responsáveis pelo aumento vertiginoso dos custos de produção de forma completamente anormal e incompreensível, quando o aumento da mão-de-obra ou seja dos salários de 19,7% correspondem a rubrica de menor aumento, apesar de bem acima dos aumento dos preços médios de venda.

Reconhece-se que os custos de produção da Maçã de Alcobaça IGP relativamente a fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos ou Biotécnicos são mais onerosos do que as soluções mais tradicionais, uma vez o modelo de produção ecológico e de forte compromisso ambiental obrigar a escolhas alternativas e mais evoluídas, desde escolhas tecnológicas de origem natural, escolhas biotécnicas, escolhas de equipamento e luta biológica e ainda opções e práticas culturais racionais que normalmente estão do lado das soluções mais caras e com maiores crescimentos anuais de preço.

Repete-se, o aumento dos preços médio de venda de Maçã de Alcobaça nos últimos 2 anos foi de apenas 8% para todo o universo de variedades, de destinos e de diferentes níveis de qualidade.

Importa referir aqui mais uma vez que se trata de variações médias, uma vez existirem clientes, destinos e níveis de qualidade mais exigentes que registaram aumentos superiores, enquanto outros níveis de qualidade e serviço existem com contributos inferiores para as medias aqui apresentadas.

Não pode deixar de se registar ou relembrar aqui que apesar do drama apresentado, acresce que na campanha passada a produção comercializável de maça de Alcobaça sofreu uma quebra significativa devido às alterações climáticas já suficientemente retratadas a época das colheitas, situação que onerou de forma suplementar os custos unitários de produção, sem contabilização aqui neste trabalho.

Esta realidade é uma consequência que merece não ser esquecida, uma vez quebras de produção de origem climatérica também serem motivo de redução de oferta e de aumento da procura, isto para lembrar que quebras de produção por inviabilidade ou desinteresse ou até desmotivação de se fazerem novas plantações também são motivo grave de redução das produções e consequentemente e complementarmente aumentar os preços de venda, as importações e o contributo para economias terceiras.

Espera-se deste modesto contributo da Maça de Alcobaça IGP que quem ainda tem dúvidas de onde está a razão ou origem dos aumentos dos preços, tenha em atenção esta realidade e esteja atento aos setores de atividade que irão registar maiores aumentos de lucros no fecho das contas do ano.

As famílias e empresas produtoras e de processamento exclusivo de Maça de Alcobaça IGP vão ter e apresentar os piores resultados dos últimos 20 anos, a larga maioria delas vão apresentar prejuízos, algumas delas prejuízos significativos.

A presente partilha de indicadores pretende ser um contributo real e preocupado para a campanha de informação e desinformação que temos assistido nos últimos dias, por vezes abordando generalidades e não especificidades, por vezes visando alvos errados, quando os verdadeiros beneficiários desta calamidade de aumento de custos apenas o Ministério das Finanças poderá divulgar brevemente, após apresentação pública dos resultados e das receitas das empresas Portuguesas.

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Fonte: APMA

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José Ferreira

Enquanto o produtor receber cerca de 0.30 centimos por quilo e o consumidor pagar cerca de 2 euros algo está errado.